ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA
DEBATER O PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO AMBIENTAL DE PORTO ALEGRE –
TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUARTA LEGISLATURA, EM
18-8-2007.
Aos dezoito dias do mês de
agosto do ano dois mil e sete, reuniu-se, no Centro de Comunidade Parque
Madepinho – CECOPAM –, na Rua Arroio Grande, nº 50, Bairro Cavalhada, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às nove horas e cinqüenta e cinco minutos, a
Vereadora Neuza Canabarro assumiu a presidência e declarou abertos os
trabalhos, informando que a presente Audiência Pública seria destinada a
discutir a importância do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental
para a Cidade de Porto Alegre, nos termos do Edital publicado no Jornal do
Comércio, no dia vinte de julho do corrente. Durante os trabalhos, estiveram presentes os
Vereadores Guilherme Barbosa, Carlos Comassetto, Adeli Sell, Sebastião Melo,
Alceu Brasinha e, Carlos Todeschini e as Vereadoras Maria Luiza e Margarete
Moraes. Na ocasião, a Senhora Presidenta registrou as presenças
dos Senhores Nestor Nadruz, Conselheiro da Região de Gestão de
Planejamento Urbano nº 06 do Conselho Municipal de Desenvolvimento
Urbano Ambiental de Porto Alegre, e
Valério Lopes, Vice-Presidente da União das Associações de Moradores de Porto Alegre –
UAMPA. A seguir, a Senhora Presidenta prestou esclarecimentos
acerca das normas a serem observadas durante os trabalhos da presente Audiência
Pública, destacando que essa reunião abrangerá as comunidades dos Bairros
Camaquã, Campo Novo, Cavalhada, Espírito Santo, Guarujá, Hípica, Ipanema,
Nonoai, Pedra Redonda, Serraria, Teresópolis, Tristeza, Vila Assunção, Vila
Conceição e Vila Nova, que integram a Região de Gestão de Planejamento Urbano
nº 06 do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre. Também, informou que seria
concedida a palavra às Bancadas deste Legislativo, para pronunciamentos de
forma intercalada com as manifestações de interessados, sendo de cinco minutos
a duração máxima de cada uma dessas intervenções. Em continuidade, foram iniciados os debates acerca do Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre, tendo a Senhora Presidenta
concedido a palavra ao Arquiteto Paulo Henrique Soares, Assessor Parlamentar da
Câmara Municipal de Porto Alegre; ao Senhor Valério Lopes; à Senhora Sandra
Jussara Mendes Ribeiro, da Associação Comunitária Santa Isabel; ao Senhor
Eduíno de Mattos, da Organização Não Governamental Solidariedade; ao Senhor
Nestor Nadruz; à Senhora Maria Ângela Pellin de Molnar, do Centro Comunitário
dos Bairros Tristeza, Pedra Redonda, Vila Conceição e Vila Assunção; ao Senhor
Emerson da Silva Rodrigues, da Associação dos Moradores do Chapéu do Sol; à Senhora
Ilca Souza Daniel, da Secretaria de Justiça e Segurança; ao Senhor Gladimir
Dantas, da Associação de Moradores da Vila Nova; ao Senhor Felipe de Oliveira,
do Movimento Porto Alegre Vive; à Senhora Iole Kunze, da Associação de
Moradores do Bairro Ipanema; ao Senhor Rolf Naumann, da Associação dos Amigos
do Bairro Higienópolis; ao Senhor Gabriel Maria Duarte Centeno, Presidente do
Conselho da Vila Nova; ao Senhor Hamilton Viegas, Conselheiro do Orçamento
Participativo da Região Sul; ao Senhor Felisberto Luisi, da Organização Não
Governamental Despertar Coletivo; e à Senhora Neiva Mattos Moreno, da
Comunidade Atílio Supertti. Também, manifestaram-se acerca do tema da presente
Audiência Pública os Vereadores
Guilherme Barbosa, Maria Luiza, Neuza Canabarro e Sebastião Melo. Em prosseguimento,
a Senhora Presidenta informou que o material relativo à presente Audiência
Pública será repassado à Comissão Especial do Plano Diretor, composta por doze
Vereadores, para análise do assunto neste Legislativo. Também, convidou para oficinas
sobre Reforma Agrária, a serem realizadas hoje, a partir das quinze horas, no
Centro de Comunidade Parque Madepinho – CECOPAM. Ainda, registrou a presença,
nesta Audiência, dos Senhores Chico Vicente e Miguel Rossetto. Às doze horas e trinta minutos, nada mais havendo
a tratar, a Senhora Presidenta declarou encerrados os trabalhos da presente
Audiência Pública. Os trabalhos foram presididos pela Vereadora Neuza Canabarro
e pelo Vereador Carlos Comassetto e secretariados pelo Vereador Alceu Brasinha.
Do que eu, Alceu Brasinha, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente
Ata, que será assinada por mim e pela Senhora Presidenta.
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Senhoras e senhores,
bom-dia. Neste momento vamos dar início a mais uma reunião promovida pela Mesa
Diretora da Câmara de Vereadores com o objetivo de ouvirmos a comunidade e as
entidades presentes sobre as suas expectativas em relação ao Plano Diretor. Em
primeiro lugar, eu gostaria de colocar que nos acompanham o arquiteto Nestor
Nadruz, conselheiro da Região de Planejamento 6; o Sr. Valério Lopes,
Vice-Presidente da UAMPA. Eu convidaria também os Vereadores presentes:
Guilherme Barbosa, Maria Luiza, Carlos Comassetto, Adeli Sell, Sebastião Melo.
Neste momento vou fazer uma observação: convido o ex-Vice-Governador, Miguel
Rossetto, para nos acompanhar também. Eu diria, Rossetto, que a tua presença
aqui não é nenhuma gentileza, é cumprindo um Decreto Federal que normatiza a
formação das mesas de qualquer ato de entidade pública, que respalda os
ex-Governadores e ex-Vice-Governadores. Portanto, a tua presença é um direito
teu.
Esta reunião abrange a Região Centro-Sul. Desculpem a demora, mas eu
estava procurando o nome do nosso técnico que vai fazer a exposição inicial,
que é a fundamentação do Plano Diretor, do que nós estamos na expectativa de
analisar na Câmara de Vereadores. Vejam bem que o Plano Diretor, a proposta que
foi elaborada pelo Executivo, já passou por várias reuniões, por várias
audiências públicas. A Câmara, que vai receber essa proposta para analisar,
está ouvindo, para poder, com responsabilidade, compatibilizar as expectativas
da comunidade, do cidadão - com quem nós temos o compromisso maior – e com a
proposta técnica do Executivo. Por esta razão nós estamos, então, com o
arquiteto Paulo Henrique Soares, que é assessor parlamentar da Câmara
Municipal, e representa o grupo de técnicos e assessores que prepararam e
organizaram as nossas audiências públicas.
O arquiteto Paulo Henrique Soares está com a palavra.
O SR. PAULO HENRIQUE SOARES: Bom-dia a todos e a todas.
Antes de começar a fazer a apresentação prevista no nosso power point,
eu queria esclarecer que este material é o mesmo que está na cartilha
distribuída a todos na entrada da Audiência. Acho importante, antes de
começarmos a falar sobre Plano Diretor, nós também falarmos um pouco do
histórico, como é que o Plano Diretor se insere nas demais Legislações. Vamos
voltar um pouco no tempo, à nossa Constituição Federal, em 1988, quando
conseguimos aprovar um capítulo específico para a política urbana no Brasil. Lá
estão previstos dois artigos, que depois deram a base para a gente apresentar
um Projeto de Lei. Todos os movimentos sociais, entidades de classe
apresentaram ao Congresso Nacional um Projeto de Lei, apresentado como
Iniciativa Popular, em 1990, que tramitou no Congresso Nacional por 11 anos e
foi aprovado em 2001. É o chamado Estatuto da Cidade, que prevê uma série de
instrumentos importantíssimos para a reforma urbana nas cidades do Brasil.
Dentro desses instrumentos, insere-se também a obrigação dos Municípios brasileiros
de fazerem seus Planos Diretores. Então, todos os Municípios do Brasil com mais
de 20 mil habitantes são obrigados a ter Plano Diretor. Foi dado um prazo de
cinco anos para esses Municípios fazerem seus planos. Esse prazo se encerrou em
2006. Houve um amplo movimento para que esses Municípios cumprissem esse
dispositivo legal.
No caso de Porto Alegre é um pouco diferente; não se inseriu nessa
obrigação porque Porto Alegre já possui uma ampla tradição no processo de
discussão do planejamento urbano. Vem lá de 1914 - o Nadruz está aqui, nosso
arquiteto, colega - e claro que naquela época o Plano Diretor era muito
diferente deste que estamos aqui tratando. Era um Plano que tratava basicamente
do plano viário da Cidade, depois ele foi ficando um pouco mais
complexo, também com a complexidade da nossa Cidade. Dito isso, só para dar um
contexto, lembrando a Constituição Federal, o Estatuto da Cidade. Acho que é
importante dizer que o Estatuto da Cidade traz alguns mecanismos como a função
social da cidade, a função social da propriedade; são questões importantes para
a gente colocar neste contexto.
O nosso Plano, como eu estava dizendo, vem
lá de 1914, mas também foi inovador com a questão do advindo da
Constituição Federal. Nós tivemos, em 1990, aqui em Porto Alegre, a aprovação
da nossa Lei Orgânica, que definiu uma série de dispositivos que, já naquela
época, possibilitavam a questão da concessão do Direito Real de Uso, o Solo
Criado e outros mecanismos que só foram obrigatórios para os demais Municípios
do Brasil, em 2001, com o Estatuto das Cidades. Então, o nosso Plano já trouxe
uma série de mecanismos que eram inovadores na década de 80.
O Plano Diretor é a lei que planeja o
crescimento ordenado da Cidade; protege o meio ambiente, o patrimônio cultural
e histórico; garante direitos como a moradia, o saneamento, o transporte
público, e ainda disciplina a ocupação e uso do solo e da propriedade.
Nós elencamos alguns pontos que o Plano
define. Os principais são: define, por exemplo, áreas impróprias à ocupação
urbana para evitar construções em áreas de risco, ou seja, aquelas áreas em
margens de arroios, encostas de morros, isso o Plano Diretor vai definir
instrumentos que coíbam a ocupação dessas áreas.
Também define áreas de proteção ambiental e
de interesse cultural. O Parque do Delta do Jacuí, por exemplo, é uma área de
proteção ambiental onde foi instituído um parque, e isso consta e está gravado
no nosso Plano Diretor.
Áreas de Interesse Cultural são aquelas
ambiências, partes da Cidade que definimos como devam ser preservadas, que
fazem parte da identidade e da história. Então, o Plano deve prever áreas como
essas, gravá-las e criar mecanismos de proteção para essas áreas.
Também estão previstas, no Plano Diretor,
áreas para instalação de atividades com potencial de poluição da água e solo;
cabe ao Plano Diretor disciplinar a distribuição dessas atividades sobre o
território da Cidade.
Vamos dar somente um exemplo, que acho
interessante, que é a questão do aeroporto, por exemplo, que tem que estar numa
determinada região da Cidade, e isso cabe à cidade planejar, onde, no entorno,
não poderá, por exemplo, ter residências, porque há um acúmulo de ruídos e se
deve evitar que as construções de habitação fiquem próximos de um aeroporto,
isso também o Plano tem que orientar e determinar, estipulando regimes
urbanísticos para aquela região.
Áreas de habitação de interesse social -
isso também temos, no nosso atual Plano as AEIS - Áreas Especiais de Interesse
Social -, que o nosso Plano, em 1989, já possuía este tipo de mecanismo que só
foi tornado obrigatório para o resto do Brasil em 2001. Essas áreas podem
servir para que o Município grave áreas hoje, por exemplo, para regularização
fundiária. É uma questão importante aqui para esta região também, então, esse é
um mecanismo que o Plano coloca, como também permite que o Município faça o
gravame de áreas onde ele vá inserir moradias novas, ou seja, programas
habitacionais a serem implementados pelo Município.
Também está lá no Plano todo o Regime
Urbanístico, o Plano Regulador, onde se pode estipular, determinar qual é a
altura que os prédios da Cidade devem ter, os recuos que devem obedecer quanto
aos seus lindeiros; a taxa de ocupação que este terreno deve ter. É todo um
mecanismo que vai regular as edificações na Cidade, como também onde poderão
ter atividades comerciais, residenciais, industriais, ou seja, disciplinar todo
o território da Cidade.
Também terá normas técnicas urbanísticas
para a expansão da área urbana; definir quais são as áreas de maior ocupação,
ocupação intensiva, as áreas rarefeitas que temos aqui, que deverão ter uma
densidade menor, tudo isso também determinado no nosso Plano Diretor.
Quem participa da elaboração de um Plano
Diretor? Aqui é importante dizer que o Estatuto da Cidade prevê, com a Lei
aprovada em 2001, e determina que todos os Planos Diretores devem ser
elaborados com ampla participação da sociedade, e não somente na elaboração,
mas na sua aplicação também, devem permitir mecanismos em que haja a
participação da população.
No nosso caso aqui, são dois momentos da
elaboração de um Plano, no Poder Executivo, a Prefeitura, e depois, no Poder
Legislativo. Então, estamos neste momento de transição; a Prefeitura fez o
processo de revisão do atual Plano - e não vou entrara aqui no detalhamento
desse processo -, está agora elaborando o Projeto de Lei a ser encaminhado,
está finalizando este processo para ser encaminhado à Câmara de Vereadores, e
nós estamos entrando nesta fase na qual nos encontramos aqui, que já é de
análise, embora o projeto não tenha chegado na Câmara. Já estamos fazendo as
Audiências Públicas, ouvindo a comunidade, e iniciando este processo que agora
começa aqui no Legislativo. Então, temos os Vereadores e Vereadoras que
analisam a proposta enviada pelo Executivo e também apresentam alterações no
Plano Diretor, respeitando os interesses da comunidade e a viabilidade técnica
de propostas. Se necessário, vão apresentar emendas, e nesta etapa também deve
ser ouvida a sociedade civil organizada.
Acho que é importante só colocar que
estamos numa fase de revisão do plano, não estamos criando um plano novo. O
Poder Legislativo inicia os seus debates, as suas audiências. Provavelmente
este seja o início, haverá outros momentos de ouvir a comunidade, e também é
importante registrar que esse é um processo de retroalimentação. Na verdade,
estamos aqui fazendo uma revisão e é importante a sociedade estar sempre
participando do processo de revisão e de aplicação do Plano. Também é
importante dizer que o nosso Plano Diretor, hoje, já prevê um sistema de vários
mecanismos de participação. Um deles é o Conselho Municipal do Plano Diretor, o
Arquiteto Nadruz representa uma Região. Isso foi uma inovação do Plano de 1999,
que aumentou a participação no Conselho, trazendo não só representantes da
Administração Municipal, representantes de entidades, mas também dividiu a
Cidade em oito Regiões e que colocou ali uma representação eleita de cada
Região da Cidade, de forma a propiciar também que a Cidade organizada tenha uma
instância de participação nas decisões do Plano.
Acho que, a princípio, não vamos nos
estender muito mais, porque depois teríamos que tratar sobre os mecanismos num
plano diretor. Eu sei que o tempo é curto e, então, eu ficaria por aqui.
Coloco-me à disposição para algum outro esclarecimento. Eu gostaria de
agradecer a ouvida de vocês. Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): Obrigada, Arquiteto, pela explanação. Eu gostaria
de explicar como será a nossa metodologia: nós estamos com as inscrições
abertas para 15 entidades; temos oito já inscritas, há seis inscrições em
aberto, e poderemos ter também na suplência. E, também, as sugestões de quem
trouxe por escrito estão sendo recebidas do lado esquerdo, os Vereadores
falarão um por Bancada, alternadamente; serão 10 minutos por entidades e cinco
minutos para cada Vereador.
O Sr. Valério Lopes, Vice-Presidente da
UAMPA - que é nossa parceira na promoção dessas Audiências Públicas -, está com
a palavra.
O SR. VALÉRIO LOPES:
Bom-dia a todos e a todas; bom-dia Ver.ª Neuza canabarro, Coordenadora desta
atividade; bom-dia ao arquiteto Nadruz, desta Região do Planejamento da Cidade;
Vereadores e Vereadoras, presentes, ex-Vice-Governador Miguel Rossetto;
lutadores do movimento popular de associação de moradores, queria dizer a vocês
que eu estou cada vez mais satisfeito com a democracia, porque nós lutamos para
construir o Estatuto da Cidade; lutamos para fazer a reforma urbana; lutamos
para fazer esse espaço que temos aqui. Por exemplo, eu não sou descansado, eu sou
um dos que está com muito vigor ainda para continuar lutando por um Brasil
melhor, por um mundo melhor. E todos que estão aqui, certamente, não são
descansados, são dos que estão querendo lutar para continuar mudando o Brasil.
E nós vamos começar mudando pela nossa Cidade, pelo nosso local de moradia.
Então, nós, da UAMPA, estamos muito
satisfeitos em fazer esse debate, acho que é um momento histórico da luta
política brasileira, um momento histórico da luta política de Porto Alegre,
Ver.ª Neuza, por conta dessa relação que a Câmara de Vereadores propõe de abrir
este debate, de fazer este debate, de consolidar essas propostas da cidade de
Porto Alegre, a Cidade que nós queremos. E aí, nós temos que respeitar as
nossas diferenças. Nós temos diferenças, divergências e visões de como queremos
construir a Cidade. Mas isso é parte do debate democrático que estamos fazendo
aqui.
Nós, da UAMPA, estamos muito satisfeitos por
estar fazendo este debate, pois é sempre bom lembrar – às vezes nos esquecemos
– o ambiente democrático que nós vivemos e é por isso que nós estamos aqui. Com
as nossas divergências, com a nossa visão de Cidade, com a nossa visão de
construção de futuro, mas todos nós querendo avançar e avançar para melhor,
para que as pessoas tenham uma melhor condição de vida.
Na UAMPA, por exemplo, nós lutamos para que
a gente possa, em algum momento, poder regularizar 632 áreas irregulares em
Porto Alegre. Este é um problema que nós precisamos resolver. Nós já colocamos
no Estatuto da Cidade, nós lutamos por isso e queremos também fazer uma
discussão melhor de qual é o reflexo dos Portais da Cidade em Porto Alegre - há
acordo, inclusive, entre todos nós -, nós achamos que tem que melhorar mesmo o
sistema de transporte de Porto Alegre. Agora, temos que ver como se faz para
adequar isso à realidade que estamos vivendo.
Outro tema que é importante para nós é essa
ocupação irregular das áreas de preservação. Eu não vou falar aqui das alturas
ou de outros temas que também são importantes para a Cidade, mas é a Cidade que
vai resolver isso. Portanto, nós estamos aqui para ouvir o que a Cidade tem a
dizer. A UAMPA está disposta a fazer este debate franco com todos, para que
possamos aproveitar o melhor possível dessas Audiências que estamos fazendo.
Muito obrigado e uma boa luta para todos que encaram esse debate do Plano
Diretor de Porto Alegre.
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): Eu faria uma correção: fui alertada aqui pela Rosi
– que está comandando o espetáculo - de que são cinco minutos para cada
entidade e cinco para cada Vereador. Eu queria dar uma “colher de chá” para as
entidades, mas não há possibilidade pelo tempo.
A Sra. Sandra Jussara Mendes Ribeiro, da
Associação Comunitária Jardim Isabel, Ipanema, está com a palavra.
A SRA. SANDRA JUSSARA
MENDES RIBEIRO: Bom-dia a todas e a todos, nesta manhã
chuvosa e fria de inverno, cumprimento a Ver.ª Neuza Canabarro e através dela
cumprimento toda Mesa, as senhoras e os senhores aqui presentes.
Porto Alegre se caracteriza por ser uma
cidade de lutas, por ser uma cidade de vanguarda pelas suas características
bastante peculiares de participar da Cidade. E nós, da Associação Comunitária
Jardim Isabel – Ipanema e Agapam, que eu aqui também represento, mas vou falar
pela minha Associação, do meu Bairro, queremos também contribuir para que o
Plano Diretor seja reavaliado de acordo com aquilo que a Cidade pensa.
Antes da realização das audiências públicas
pela Prefeitura... Um pequeno histórico, só para contextualizá-los: Nós fomos
recebidos pelo Secretário Fortunati, o Movimento Porto Alegre Vive, que
congrega mais de trinta entidades, onde nós tivemos um contato extremamente
amistoso, respeitoso, de troca de idéias e podemos, naquela ocasião, entregar
em mãos e protocolar os projetos que as associações que estavam ali pressentes
naquela grande reunião, estavam colocando. Muito bem, qual foi a nossa surpresa
que depois no desenrolar das audiências públicas – não vou me estender a
respeito disso, é de domínio público, saiu na tv, no rádio, nos jornais, houve
o que houve. O projeto da Associação Comunitária Jardim Isabel – Ipanema, foi
aceito pela Prefeitura e, posteriormente, nunca mais apareceu. Então é uma
coisa que nos causa constrangimento, espanto, porque a Prefeitura num momento
aceita e depois das audiências públicas o projeto some. Nós estamos
protocolando, como a Ver.ª Neuza pediu, protocolamos o projeto novamente para
que os Vereadores então nos ouçam, e é neste sentido que nós queremos louvar a
iniciativa da Câmara de Vereadores de ouvir as comunidades, de estar próxima
delas, porque, na verdade, é a Casa do Povo de Porto Alegre. Parabéns a todos
os Vereadores que estão aqui conosco.
Qual foi a nossa proposta para o Plano
Diretor? Alteração da quota terreno do Jardim Isabel e obediência aos
parâmetros constitucionais e aos dispositivos do Estatuto da Cidade. O nosso
loteamento está localizado na Zona Sul, Ipanema, especificamente, junto a orla
do Guaíba, fazendo divisa com o Morro do Osso, em local já definido como Cidade
Jardim. Nos últimos dez anos, começou a proliferação dos condomínios
horizontais, com um crescimento populacional em torno de 500%. Tal crescimento
não conta com a infra-estrutura necessária, além dos prejuízos ambientais pelo
desmatamento. É importante destacar que o Morro do Osso, que vem sofrendo
sérias agressões especulativas nos últimos tempos, é um símbolo da flora e da
fauna da Mata Atlântica e, por isso, um ponto de equilíbrio, assim como o Morro
do Sabiá, o morro Espírito Santo que mantém a estabilização do microclima da
nossa Capital como um todo. Ser observada a quota terreno para a construção do
Jardim Isabel e adjacências de 300 m2, é a base de sustentação para a
preservação ambiental. Para dar caráter científico à nossa proposta, lembramos
que existe um estudo sobre as Áreas Especiais de Interesse Cultural realizado
por técnicos da Secretaria Municipal da Cultura em parceria com a Uniritter, em
gestão anterior a essa e que apresenta esse índice de 300 m2 como a quota
mínima de terreno. Salientamos também que esse estudo foi apresentado na Câmara
de Vereadores e apoiado com a participação maciça da comunidade. Ele reveste-se
de fundamental importância para a preservação cultural e ambiental da Cidade e
seria o ponto de referência e eficiência da administração pública municipal no
âmbito socioambiental. Todavia, tal estudo foi desconsiderado pela atual
administração que – pasmem – vem licenciando as construções usando a quota de
75 m2 ao invés da prevista em Lei que é de 300 m2.
A quota aleatória de 75 m2 fere frontalmente a nossa Constituição Federal e também o Estatuto da Cidade. É importante destacar que a forma como as associações comunitárias são desconsideradas dentro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, quando lhes cabe uma participação minoritária e há favorecimento de entidades privilegiadas. Também discordamos da forma como as audiências públicas da Secretaria de Meio Ambiente são realizadas, quando visam apenas medidas compensatórias aos desmatamentos, após os projetos já terem sido aprovados e autorizados, com visível agressão das características específicas da nossa região.
Ainda com amparo em dispositivos da
Constituição Federal, que garantem o direito aos cidadãos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e também com respaldo nas disposições do Estatuto da
Cidade que determina o controle rigoroso do impacto de vizinhança, do
adensamento populacional, do uso e da ocupação do solo, da paisagem urbana e da
função social da propriedade, os moradores, em defesa de sua cidadania, exigem
que os Jardins da Dell passem a ser a Área Especial de Interesse Cultural, em
razão da sua localização junto à orla do Guaíba, ficando dentro da cota mínima
de 300 metros quadrados. Como cidade-jardim que somos, nos caracterizamos pela
baixa densidade e pelo uso residencial predominantemente unifamiliar e
elementos naturais integrados a edificações, com especial interesse na orla do
Guaíba, conforme dispõe o PDDUA.
Somos movidos por profundo respeito à
natureza, desejamos nossa Cidade preservada para essa e também para as gerações
futuras. Afastam-nos os interesses financeiros, que interpretam, como é o caso
do atual PDDUA, a Cidade como uma simples mercadoria, promovendo uma
descaracterização geral em toda a Porto Alegre.
Queremos nos associar, também, à UAMPA, onde as moradias devem ser regulamentadas, os terrenos regulamentados e também construídas casas de acordo e compatíveis com a cidadania da alta, da média e da baixa classe de Porto Alegre. Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Registramos a presença dos Vereadores Alceu
Brasinha, Carlos Todeschini e Margarete Moraes entre nós. Muito obrigada pela
presença.
O Ver.
Guilherme Barbosa está com a palavra.
O SR. GUILHERME BARBOSA: Bom-dia, Ver.ª Neuza Canabarro, que dirige os nossos trabalhos; Valério,
da UAMPA, junto com a Câmara nesta atividade; Nadruz, que é o Conselheiro aqui
da região; demais colegas Vereadores, Vereadoras, lideranças, pessoas da
Região. Eu falo com muita satisfação, em nome da nossa Bancada do PT, que tem
aqui a Ver.ª Margarete Moraes, o Ver. Carlos Todeschini, o Ver. Carlos
Comassetto, o Ver. Adeli Sell, mas também os outros colegas das outras
Bancadas, importante esta nossa atividade.
Nós já
temos um Plano Diretor e, agora, nós estamos, na verdade, discutindo a sua
reformulação. Nós não vamos trabalhar num novo Plano. Mas o processo acontecido
até agora foi muito complicado, já foi citado na fala anterior, não se debateu,
as grandes audiências, que foram duas, foram muito complicadas, movidas a lanche e etc., e
não houve a possibilidade, de fato, de um debate em que escutássemos a
população.
Portanto,
esta iniciativa da Câmara é muito importante, nós queremos mais ouvir do que
falar. Nós queremos verificar o que está pensando a população, nas várias
regiões da Cidade, sobre o atual Plano que precisa ser modificado.
Mas claro
que nós temos alguma idéia. E estamos preocupados que o tempo está passando,
hoje já é dia 18 de agosto, o tempo vai encurtar, não é bom que esta discussão
vá para o ano que vem, porque é um ano de disputa eleitoral municipal, pode
acirrar muito as diferenças partidárias. Seria ideal que nós conseguíssemos
votar esta modificação neste ano; mas o tempo está encurtando e eu acho que o
agosto já se foi.
Bem, com
relação ao que nós temos ouvido, o que foi definido naquelas audiências
executadas pela Prefeitura, nos traz várias preocupações. Em primeiro lugar, as
modificações centram, principalmente, na parte da primeira região de
planejamento, na Macrorregião 1, 3ª Perimetral até o Guaíba, não se preocupou,
com muita intensidade, com as outras macrorregiões.
Em segundo
lugar, não há nada que se preocupe com o crescimento econômico de Porto Alegre,
e o Plano tem a ver com isso; não tem muito a ver com a questão da mobilidade,
do transporte coletivo. Sabemos que temos um sistema, baseado em ônibus que
funciona, mas que tem uma capacidade que vai se esgotar daqui para a frente,
vamos precisar de um meio mais potente e assim por diante, que vai ser o
trem, o metrô. Mas nada disso se discute nas propostas apresentadas até agora
na reformulação.
Quanto à
discussão que foi dita aqui sobre as Áreas de Interesse Cultural. Houve um
estudo anterior que tinha um número determinado de locais e metros quadrados.
Nós sabemos que a proposta que, possivelmente, vá para a Câmara, aumentou o
número de áreas, mas diminuiu os metros quadrados. Na verdade, há um certo
artifício aí, porque saíram algumas áreas, portanto, se os metros quadrados são
menores... Não tem nada com relação às Áreas de Interesse de Proteção
Ambiental, zero. (Palmas.)
E tem uma
informação, que recebi nesta manhã, de que a SMAM teria mandado, agora, para o
Prefeito uma série de propostas. Agora, vê a situação: houve todo um trabalho
feito, a partir da Secretaria do Planejamento, mas nada da SMAM. E, ao mesmo
tempo, pelo que eu percebi, nada da SMIC, que tem a ver com o desenvolvimento
econômico; nada da EPTC, da questão do transporte, e assim por diante. Foi uma
iniciativa muito compartimentada, e ninguém foi informado também. Então, há uma
situação complicada que nós vamos ter de desdobrar isso na Câmara de Vereadores
e, sem dúvida, nós vamos precisar da participação das associações das pessoas.
Por isso, é importante este trabalho que nós estamos fazendo.
Aqui da região - eu gostei que oradora anterior falou que eu sou
morador da Tristeza, ali da Landel de Moura -, eu tenho visto e, às vezes, como
engenheiro, me envergonho de algumas construções que estão sendo feitas em
terrenos de pequena área, quatro residências viradas em escada. Dependendo da
topografia, há o subsolo, o térreo, o 1º e o 2º andares. São moradias que
esquecem das pessoas da terceira idade: são estreitas, é só escada, sem pátio,
sem sol. Realmente, é uma vergonha, e isso está-se proliferando muito nessa
nossa Região, chamada de cidade-jardim.
Então, vejam os senhores que eu levantei alguns itens. Há a questão da
regularização fundiária, que, também, está praticamente ausente - e é um
aspecto relevante, importante demais. Então, vejam os senhores que são muito
itens. O Plano Diretor acirra todas as diferenças e disputas na Cidade, e, de
certa maneira, o que foi discutido e apresentado até agora, traz mais ausências
do que propostas. Então, na Câmara, nós vamos ter um trabalho muito grande e,
repito, vamos precisar da participação das Associações, das comunidades, das
lideranças, para que a gente consiga fazer com que o Plano Diretor, nas suas
carências, nos seus problemas, seja corrigido, agora, e nós tenhamos um Plano
Diretor voltado para aquilo que pensa a maioria da população.
E quero afirmar que a gente não pode esquecer que a construção civil é
muito importante para a Cidade, para a sua economia. Ela é praticamente a única
indústria que nós ainda temos em Porto Alegre, ela se move muito rapidamente,
ela ainda emprega muita gente que tem baixa escolaridade, no entanto, isso não
pode servir como referência na construção de um Plano. E nós sentimos a força
da construção civil naquelas audiências grandes que o Executivo promoveu.
(Palmas.) Quero encerrar dizendo isto: esses argumentos não podem servir como
referência. Sabemos da importância da construção civil - portanto, isso tem que
ser levado em conta -, mas não se pode permitir uma construção até o céu, sem o
afastamento adequado entre uma construção e outra, porque insolação e
ventilação é saúde, é qualidade de vida. Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): Obrigada,
Ver. Guilherme Barbosa.
O Sr. Eduíno de Mattos, da ONG Solidariedade, está com a palavra.
O SR. EDUÍNO DE MATTOS: Bom-dia a todos, meu nome é
Eduíno de Mattos, eu represento a entidade ONG Solidariedade, no Plano Diretor
de Porto Alegre. Bom-dia à Presidente, a Ver.ª Neuza, e, em nome dela, eu
cumprimento todos os Vereadores presentes. Pessoal, neste dia frio, chuvoso, eu
atravessei a Cidade para estar aqui hoje, objetivando dois interesses: em
primeiro lugar, porque, aqui, há uma grande quantidade de companheiros de luta
pela questão urbana e ambiental; em segundo lugar, eu quero me congratular com
a Câmara de Vereadores, por fazer essas audiências junto com a população. É a
primeira vez que isso acontece na cidade de Porto Alegre, e eu acho que nós
estamos de parabéns. (Palmas.)
Em 2001, a EPTC apresentou, no Conselho do Plano Diretor, uma
estatística do crescimento de Porto Alegre, e eu fiquei bastante assustado com
essa estatística, porque, nos próximos 20 anos, contados a partir de 2001, o
crescimento de Porto Alegre será muito maior na orla da Zona Sul e da Lomba do
Pinheiro, e quase zero na área central. Então, pessoal, eu acho que nós temos
que tomar uma iniciativa bastante enérgica em relação ao Plano Diretor de Porto
Alegre, principalmente os Vereadores que estão aqui nos ouvindo, porque nós não
podemos perder a questão ambiental e a vegetação nativa da Zona Sul. Ela está
sendo degradada rapidamente por esses condomínios horizontais, os quais foram
construídos sem critérios. (Palmas.) A construção da grande maioria deles está
sendo discutida no Ministério Público. (Palmas.) Então, eu acho que não é por
aí. Eu trouxe algumas propostas, aqui, para ajudar nessa questão da Zona Sul. A
tipologia: eu acho que os Vereadores têm que fazer alguma lei que mude a
tipologia construtiva da Região Sul, pois não são mais possíveis esses
condomínios horizontais; a cota 300 deve ser expandida, no mínimo, da Ponta do
Melo até a divisa com Viamão, na orla, pois, aí, nós teremos o equilíbrio entre
o ambiente construído e o natural - nós temos que ter esse equilíbrio, e esse
equilíbrio só se consegue com cota 300, abaixo disso nem pensar; as AEICs,
Vereadores aqui presentes: tem que haver um regime rígido na orla, porque,
senão, nós vamos perder a orla do Guaíba, principalmente aqui na Zona Sul; a
ecologia de paisagem, Maria Luiza Porto, Universidade Federal: a ecologia de
paisagem é a coisa mais importante que tem para a população; quando ela deixa
de enxergar um determinado ponto, que era cultural, era a identidade daquele
local, as pessoas passam a ficar doentes. Por exemplo, as pessoas estão
preocupadas com a ocupação do Morro. O que o Executivo faz para evitar essa
ocupação do Morro? (Palmas.) Então, a orla tem que ter AEICs com regime muito
rígido e com rédeas curtas. Não vamos deixar o pontal do Estaleiro com
edifícios altos e com densidade acima do normal. (Palmas.) Aquele regime ali já
tem um projeto que eu acho bom, mas não pode sair daquele regime que está.
Alturas: aqui, nesta Plenária, temos a satisfação de ter um professor de
física, que é o meu companheiro, Presidente da Associação das Três Figueiras,
que me orientou numa série de coisas, que eu agradeço a ele, que é o solstício
de inverno. Pessoal, o solstício de inverno se dá no dia 22 de junho, e nós
ficamos com o sol a 30 graus ao Norte. Então, pessoal se construírem um
edifício do lado da casa de vocês, o que vai acontecer? Sombra, morte, doença,
é isso que vai acontecer. Ali, na Av. Nonoai, vocês podem ver vários edifícios
que construíram em cima das casas, do lado Norte, com licença de quem? Da
CAUGE? Deve ter sido. Estatuto da Cidade, pessoal, a Câmara de Vereadores deve
reproduzir isso aqui e distribuir para todos os cidadãos de Porto Alegre,
porque isso aqui é uma lei social, ambiental, cultural, tem que ser mantida, e
nós temos que fazê-la funcionar. (Palmas.) A essa altura, pessoal, nós ficamos
com o sol a 30 graus no inverno, o Estatuto da Cidade é bem claro, o EIV,
Estudo de Impacto de Vizinhança, nesse estudo, toda a população em direito de
exigir uma Audiência Pública na hora que tem um grande empreendimento ao lado
da sua casa, não ao lado do seu bairro. Por que esse estudo? Porque a sombra
não pode atingir a propriedade vizinha do lado, não a casa, mas a propriedade,
a sombra tem que morrer na divisa da propriedade. Isso está aqui no Estatuto da
Cidade, pessoal. Para finalizar, eu quero bater numa coisa aqui a qual os
Vereadores têm que nos ajudar em Porto Alegre: áreas públicas. Pessoal, as
áreas públicas de Porto Alegre, eu tenho autonomia e conhecimento para falar,
são umas bandalheiras as áreas públicas em Porto Alegre, estão nas mãos de um
bando de espertalhões, há especulação comercial, é uma baita de uma
sem-vergonhice. Então, Srs. Vereadores, nós temos que fazer uma lei, botar no
Plano Diretor, que essas áreas têm que estar a serviço da sociedade, do
coletivo, do social, do cultural e das pessoas deficientes, essas áreas não
podem estar servindo para especulação comercial de um bando de espertalhões. Eu
quero deixar aqui uma cópia com a presidência. E tenho um baita de um mau
exemplo, que eu estou citando aqui, o Sport Clube Internacional, na orla. Eles
invadiram a orla, botaram ali um parque sem autorização do povo, o povo não
sabe que é proprietário daquela área – eu acho, não? – e eles estão explorando
aquilo ali, comercialmente, com uma churrascaria, que é uma franquia
internacional, com dupla sertaneja fazendo o comercial. Certo, pessoal? E mais,
só botam os pés lá os associados que estiverem em dia, que pagam uma
mensalidade. Aquilo ali é uma área pública, pessoal, isso é uma bandalheira,
não pode ser assim. E quero, e a população de Porto Alegre também quer, essas
áreas públicas de volta. Nós queremos cumprir com a questão da moradia,
companheiro da UAMPA aqui, nós, com essas áreas públicas de volta, resolvemos o
problema de moradia em Porto Alegre, resolvemos, eu garanto. E a UAMPA pode ser
parceira. Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): O Ver. Sebastião Melo está
com a palavra.
O SR. SEBASTIÃO MELO: Nossa saudação calorosa aos
participantes deste encontro, quero saudar a nossa Presidenta, Ver.ª Neuza
Canabarro, que, em parceira com essa entidade, que merece o respeito de todos
nós, que é a UAMPA, a União das Associações dos Moradores de Porto Alegre, está
promovendo, na verdade, um debate preliminar, que eu defendo hoje e defenderei
amanhã, de que a Comissão instituída deve palmilhar esta Cidade com mais de uma
Audiência por região, para poder fazer cumprir o espírito do Plano Diretor, que
é a participação popular. (Palmas.) Vejo que muitos que vão estar na Comissão
não estão participando dessas Audiências. Então, espero que aqueles que estarão
na Comissão se predisponham depois a discutir com a população. Quero saudar o
Nadruz, que todos nós conhecemos por sua firmeza e dedicação às boas lutas
desta Cidade. Meus amigos, em 5 minutos, não dá para falar de um tema da
envergadura do Plano Diretor. Então, é claro, que eu também estou aqui com o
espírito, como disse o Guilherme, muito mais, em nome da nossa Bancada, muito
mais para auscultar. Porém, não quero deixar de dar uma opinião, mesmo que seja
uma ementa desse grande acórdão. Nós estamos discutindo uma matéria, dentro de
uma Capital do nosso País, e a primeira coisa que eu quero dizer é que Porto
Alegre não é uma ilha, nós não somos um País pobre, nós somos um país altamente
injusto, com a má distribuição de renda, um País que era rural em 1960, um País
que é eminentemente urbano neste momento, e que essas demandas sociais se
refletem em todos os discursos aqui. Todos os discursos aqui refletem essas
demandas sociais, porque o Plano é um dos instrumentos que dizem que eu tenho
que dar moradia, mas, se eu não tiver dinheiro para dar moradia para as
pessoas, não adianta eu ter o melhor Plano Diretor do mundo, e não tem cidade
milagreira que, com 13% do que o Brasil arrecada, vá produzir moradia com
recursos próprios. Então, essa discussão, na minha avaliação, eu acho que a
discussão proposta até agora, bom, primeiro: nós temos um esboço de Plano em
1914, o primeiro Plano, em 1949; o segundo, em 1979, e, no Governo Collares,
essas alturas foram estabelecidas lá e, depois, elas foram mantidas em 1990, a
questão das alturas, estabelecida em 1987 e mantidas ...
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. SEBASTIÃO MELO: Oitenta e sete, sim,
Governo Collares, começou ali! Bom, e eu acho que a discussão do Plano está
muito reduzida à Macrozona 1 e à questão meramente das alturas, dos recuos, das
sacadas, que são coisas importantes. Eu, por exemplo, não sou xiita em relação
à altura, agora, sou altamente xiita em relação aos recuos. Acho que tu podes
ter um prédio alto, bonito, mas com um bom recuo, não há problema nenhum.
(Palmas.) Agora, o que não dá para fazer é caixotão na Cidade. Será que esta
Cidade, que não tem uma malha viária definitiva, eu poderia dar para vocês
aqui, de cabeça, dez traçados, Guilherme, e tu conheces melhor do que eu, que
precisam ser definidos. Então, ao revisar o Plano Diretor, eu preciso ter como
pauta, Comassetto, tu que és especialista nisso, o traçado viário da Cidade. Eu
tenho que ter um Plano Diretor da orla do Guaíba, porque, se hoje nós elevarmos
para 70%, e, se Deus quiser, as futuras gerações chegarem a cem por cento, e,
se Deus quiser, o Vale dos Sinos e todos os afluentes do nosso Lago Guaíba
forem tratados, eu pergunto: onde é que os nossos porto-alegrenses e os nossos
visitantes poderiam tomar banho, porque a orla está toda tomada ou pelos burgueses
ou pelos nossos irmãos de baixa renda? Ou não é verdade? Porque muitos tomaram
na “mão grande”, e outros irmãos nossos que não tinham lugar para morar.
Então, quero dizer o seguinte: é preciso enfrentar a questão dos
loteamentos irregulares, que é um crime que acontece no País, no Rio Grande, no
Brasil e em Porto Alegre, e que o Poder Público não fiscalizava ontem e não
fiscaliza hoje! Depois de muitos anos se botou um vigarista na cadeia. E não
sei se se bota outro! O sujeito vai lá ... (ininteligível) ... da vida, faz o
loteamento, vende o céu para o morador, não chega a praça, não chega a
iluminação pública, não chega a creche, não chega nada, e aí a nossa gente vem,
por descendência farrapa, entrar na dura fila do Orçamento Participativo, para
poder buscar, no Poder Público, aquilo que o loteador tinha que fazer.
Por outro lado, as pessoas têm que morar em algum lugar. E o Poder
Público, porque não teve recursos, as pessoas têm que morar. Está lá, diz o
Plano Diretor que não pode morar em área de risco, disse o nosso arquiteto.
Sabem quantas pessoas moram em área de risco em Porto Alegre, meus amigos?
Vinte mil! Isso aconteceu ontem, o mês passado, o ano passado? Não, ao longo de
um tempo, as pessoas moram nas encostas dos morros, na beira dos arroios.
Então, não ter um olhar para a Cidade irregular é um profundo equívoco. Existe
uma solução definitiva? Não tem! Mas eu não tenho como pegar um loteamento que
está há dez anos numa área rururbana, e eu estou falando do caso típico da Zona
do Extremo Sul, e dizer que vou tirar 300 famílias do loteamento que está lá.
Não vão tirar! Não tem Prefeito milagroso que vai fazer isso! Então, eu tenho
que encontrar uma situação do AEIS, que é transformar isso numa regularização
fundiária de verdade, porque esse discurso hoje da Reforma Agrária, que é um
discurso muito acalentado, eu, com toda a certeza, acho que a reforma mais
profunda que o Brasil tem que fazer é a reforma urbana. E essa reforma urbana,
meus amigos, tem que começar pela casa da gente, chamando SPM, PGM, SMOV, que
têm que criar uma câmara única, do tamanho desse CTG, que não tem que ter
janela, que não tem que ter vidro, que não tem que ter gente que crie
dificuldade, para criar facilidade lá na frente, e que possa dizer que aqui
está o DMLU, aqui está o DEMHAB, aqui está o DMAE, e nós vamos fazer uma linha
de produção. Dá para regularizar ou não dá! E, se eu quero fazer regularização
fundiária de verdade, eu tenho que fazer nas terras públicas em primeiro lugar,
porque aí eu vou ter autoridade para pegar, depois, as terras privadas. E esta
Cidade tem muita terra pública da Prefeitura, tem muita terra do Exército
Brasileiro, tem muita terra do IPE nesta Cidade que estão ocupadas,
consolidadas há dez anos, tem muita terra do Governo do Estado! Portanto eu
acho que, para revisar o Plano Diretor, tem que ter um olhar muito especial
para a Cidade irregular. Bom, essa questão, Margarete, tu és especialista nessa
matéria, Área de Interesse Cultural. Eu vou pegar o caso típico do IAPI, nós
criamos uma oficina lá, há três, quatro meses, até te convidei para ir às
reuniões, está lá o Instituto Histórico. Veja bem, se nós não concedermos um
incentivo para manter, Miguel Rossetto, essas questões, isso é “conversa mole
para boi dormir”. Como é que o cara do Sarandi, que tem um salário pequeno, vai
manter aquela soleira daquele jeito, a janela, se ele não tiver um incentivo?
Eu acho que nós temos que discutir, no Plano, quais são os incentivos que nós
vamos dar, para que as pessoas mantenham as características culturais desta
Cidade. E eu quero dizer que, na oposição, fui eu e o Beto Moesch que demos os
dois votos de oposição que garantiram que o Sr. Wilton Araújo, que apresentou
um Decreto revogativo das Áreas de Interesse Cultural, e eu disse não, até acho
que o instrumento utilizado pelo Verle não está correto, mas eu não vou
permitir que a sanha da construção civil, de uma hora para outra, possa
desconstituir. (Palmas.)
Agora, também acho que não dá para desconsiderar o papel que tem a
construção civil. Ela tem um papel importante num setor de um País que tem
enorme desemprego, que a maior inclusão de emprego na área não-especializada é
na construção civil. Eu acho que nós temos que ter um equilíbrio, discutir essa
matéria sem o veio da raiva. Às vezes, eu vejo o nosso Plano Diretor discutido
com raiva! Nós temos que discutir a favor da Cidade. Portanto de mim, da nossa
Bancada, nem sei se estarei na Comissão do Plano Diretor ou não, porque essa é
uma decisão interna, mas vocês podem ter certeza absoluta de que o nosso debate
será um debate muito equilibrado do ponto de vista de encontrar não a Cidade
ideal, porque ela não existe, ela nunca existirá, mas o equilíbrio entre todas
essas forças. Eu não posso deixar no plano do fundo que existem milhares de
irmãos nossos que têm que morar em algum lugar, e que nós precisamos enfrentar
isso. O instrumento do Plano Diretor não vai resolver. Uma coisa é o direito,
outra coisa é o acesso. Então, acho que também temos que ter esse parâmetro na
discussão, porque parece que com o Plano Diretor vou resolver todos os
problemas sociais, quer dizer, vão chegar bilhões de reais, vamos fazer o
Programa Entrada da Cidade, regularizar, etc. Isso não é verdade!
Segundo, para finalizar, Presidenta, quero dizer também uma coisa,
quero deixar aqui: é que às vezes vejo companheiros que ajudaram a construir
esse Plano, uma hora dessas gostaria até de convidar para a gente conversar, e
parece que esse Plano caiu do céu, parece que não houve nenhuma discussão,
parece que não havia Governo nesta Cidade, parece que não havia Vereador nesta
Cidade e o Plano apareceu! E agora ele não presta! Não. Vamos olhar para nós
mesmos e dizer: nós erramos ou acertamos juntos. Então temos que corrigir,
acertar ou consertar um Plano que foi concebido, e não me eximo da
responsabilidade, não era Vereador, mas era morador desta Cidade.
Portanto, bom trabalho, e vamos produzir, tenho absoluta certeza, com a
provocação de vocês, porque acho que deve ser uma exigência da sociedade de
que, quando instituída a Comissão, a gente produza mais do que uma reunião por
região. Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Com a palavra o Conselheiro
da Região de Planejamento 6, Sr. Nestor Nadruz.
O SR. NESTOR NADRUZ: Sra. Ver.ª Neuza Canabarro,
Sr. Vice-Presidente da UAMPA, Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores, integrantes do
Movimento Porto Alegre Vive – já vi vários aqui – do qual eu faço parte, demais
presentes, antes de começar o meu tempo gostaria de esclarecer uma questão: em
primeiro lugar, eu gostei da exposição e me fez bem, inclusive, ouvir que estão
conscientizados os Vereadores e a sociedade civil.
Mas, através de um conhecimento que tive de
um texto que li no Le Monde Diplomatique, edição brasileira, eu vou citar um
documento que se fez com o aval da Maria Ângela Pellin, que é a Presidente do
Centro Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza; Alice Gaspary, da Associação
Comunitária Jardim Isabel; Iole Kunze, Presidente da Associação dos Moradores
do Bairro Ipanema; e a Edi Xavier Fonseca, Associação Gaúcha de Proteção ao
Ambiente Natural – essas entidades são participantes também do Movimento Porto
Alegre Vive - e com a vênia da nossa Presidente. Vou iniciar a leitura, resolvi
fazer um documento por escrito devido à importância do que foi dado a mim observar
- e eu fiz discutindo com colegas. Esse documento deu origem ao seguinte: eu li
nesse Le Monde Diplomatique um texto do sociólogo Silvio Caccia Bava, diz ele
(Lê.): “A captura do Estado [tenham boa atenção ao que eu estou dizendo] pelos
grandes grupos financeiros e grande corporações tornou possível uma mudança
radical nas políticas públicas. O Estado abandonou o critério de defesa do
interesse público (que já deixava muito a desejar do ponto de vista dos
interesses das maiorias) e passou a orientar sua atuação pela lógica do
mercado. Essa combinação perversa de democracia e neoliberalismo serviu para
operar, com suposta legitimidade, a fragmentação do espaço público, a
privatização dos bens essenciais, a destituição dos direitos, a deterioração
das políticas sociais”.
A partir desse documento, que me fez
refletir, e discutido com outros colegas, com outras pessoas, saiu o que eu vou
ler agora para vocês. Em primeiro lugar, o que vem a ser realmente um
planejamento urbano? Isso é importante que vocês saibam (Lê.): “Em nosso
entender, e em forma reduzida, o planejamento urbano é o processo que envolve a
proposição (e o permanente monitoramento), em sua projeção futura, da
formulação de planos, políticas ou estratégias de desenvolvimento urbano com
seus programas e ações, sob roteiro interdisciplinar, cujo objetivo é buscar
equilíbrio social, cultural, econômico e ambiental, visando construir
sustentabilidade e gestão em benefício das populações urbanas. No sentido de
harmonizar todos os interesses que estão envolvidos na construção da cidade,
este processo deve, necessariamente, ser participativo”.
Segundo item: Prefeitura e poder econômico. Atentem para o que eu vou
dizer aqui (Lê.): “Um fato novo se constata: o Poder Público é hoje refém desse
segmento, que é o poder econômico, marginalizando a sua representatividade
perante o povo, conforme previsto na Lei Orgânica Municipal, art. 126”. É bom
vocês que vejam o que diz o art. 126. “Porto Alegre está sob a égide desse
segundo poder paralelo - construção civil, protegida pela Lei Complementar nº
434/99 [que é a Lei do Plano Diretor atual] - , pois a revisão empreendida a
partir da 1.ª Conferência de Avaliação do Plano Diretor da Cidade, em outubro
de 2003, resultou em um produto que é contrário às expectativas da comunidades
que se sentiram lesadas ao vivenciar acontecimentos constrangedores promovidos
pela construção civil, ao manipular seus empregados para que votassem a seu
favor nas propostas levadas à audiência pública de junho de 2007, promovida
pela Prefeitura Municipal. Foi uma demonstração de que a nossa Cidade está
inserida nesse contexto.
O artigo 3º do PDDUA diz que “as estratégias são os caminhos que se
devem percorrer para que a Cidade atinja seus objetivos de desenvolvimento”.
Como se viu, o discurso não correspondeu à prática. Sete temas indicam ações
para que se construa uma cidade de todos e para todos. São bonitas as palavras
do comentário do artigo citado, mas, em tese, a Lei Complementar nº 434/99, que
já foi uma inovação, na prática deixou em aberto tantas interpretações, que a
tornaram uma Lei perversa. As novas construções que advêm das benesses dessa
Lei trazem seqüelas intoleráveis que estão afetando o meio ambiente por
diversas razões, entre as quais destacamos a excessiva densificação,
considerando a infra-estrutura existente e ainda o aumento, ano a ano, de uma
interminável quantidade de veículos circulando na malha viária da Cidade.
Esses monstros arquitetônicos ainda trazem um aspecto financeiro ruim,
pois seu preço final de vendas é inacessível à compra pela maioria da
população. Questões de infra-estrutura vão afetar nossas vidas em um futuro
próximo, e a Prefeitura não terá recursos para enfrentar essa nova realidade,
vendo-se forçada a aumentar o valor das taxas sociais, impondo aos moradores
desta Cidade despesas não produzidas por eles, e sem retorno de conforto. Como
será a água do nosso lago Guaíba durante os próximos anos? Como será a captação
da água a ser tratada, e os dejetos orgânicos serão, cada vez mais, lançados em
grande quantidade? Qual o custo disso para a população de Porto Alegre,
principalmente a de baixa renda?
O PDDUA, que definiu sete estratégias para seu desenvolvimento vem se
preocupando com apenas uma delas, que é a de uso do solo privado, justamente a
que envolve os interesses dominantes da construção civil. [Aqui vem outro
aspecto, e quero que vocês atentem ao que eu vou falar, pois considero isto
importantíssimo, que é a “Cidade empresa”.]
Vejam, queiram ou não queiram, estamos todos nós expostos a viver no
que hoje é uma mercadoria de luxo, destinada, sobremaneira, a uma elite
compradora, em detrimento do poder aquisitivo do grosso da nossa população, que
vai sendo empurrado e expulso de seu habitat. O que dizer da população de baixa
renda? Estamos vivendo em uma Cidade, coisa ou objeto, que sinaliza uma
Cidade-sujeito, ou seja, uma grande empresa, e, como tal, não é mais nossa,
pois somos forçados a nos adaptar, o que nem todos podem fazer.
Assim, Porto Alegre se coloca em competição com e como outras Cidades,
para atrair investimentos privados (Rossi, Cyrella, etc.) e tecnologia, dos
quais não participamos a não ser como consumidores. A Cidade já é o protótipo
de uma empresa privada e a Administração Municipal passa a ter o papel de
gerente, que é conivente nessas transformações, quando chega ao absurdo de
mudar as leis para atender a interesses privados pontuais, em detrimento da
maioria para quem a Lei é destinada. (Palmas.) Entendemos isso como uma forma
de corrupção passiva, quando a ideologia política pede componentes técnicos que
a justifiquem, a não ser que envolva interesses e bem-estar coletivos.
O que nos assusta agora é a notícia [inclusive publicada no Correio do
Povo] de que a construção civil circula pelos gabinetes da Câmara Municipal fazendo
lobby [já estão lá].
Que essas audiências públicas, promovidas pela Câmara Municipal nas
regiões de planejamento, sirvam de alerta a todos os presentes, sabendo da
forma como o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental procedeu
na ultima revisão empreendida, compatibilizando interesses conhecidos da
sociedade comum. E que os Srs. Vereadores tenham a oportunidade de se informar
melhor sobre a vontade e a necessidade da população, examinando e avaliando as
modificações propostas com honestidade e sensibilidade, bem como considerar o
trabalho desenvolvido pela SMAM em 2006, cujas propostas foram também
descartadas.
O Conselho do Plano Diretor, órgão de integração do Sistema Municipal
de Gestão de Planejamento, também cria e instala políticas, planos, programas e
projetos de desenvolvimento urbano, o que não lhe é competente, e que deveria
acontecer apenas na forma de pareceres [que é assim que acontece], mas não em
paralelo com as mesmas atividades elaboradas pela SPM e SMAM, órgãos responsáveis
por esse papel. Como o Conselho é formado, em sua grande maioria [vejam o que
eu estou dizendo], por representantes de entidades e de interesses empresariais
e da classe, as decisões sempre convergem em benefício desses segmentos, que se
caracterizam pela predominância de um mesmo pensamento [o que é grave, um
pensamento único], ou seja, o pensamento que caracteriza apenas o interesse de
alguns - os representantes do interesse da construção civil enquanto empresa.
Assim, pouco se tem a discutir para defender o interesse dos moradores de Porto
Alegre e principalmente da Região de Planejamento 6, a qual representamos
culminando em grandes prejuízos para a população e meio
ambiente local. Só a mobilização das comunidades organizadas poderá modificar
este quadro. [Atentem para isso.] (Palmas.) Neste momento, considerando o
processo vivido na presente revisão do Plano Diretor, denuncia-se a falta de
ética na condução dos trabalhos, que veio a representar desrespeito a todos os
cidadãos que nos colocaram junto ao Conselho, como portadores de suas
expectativas. Muito obrigado.” (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): Obrigada, Nestor Nadruz.
A Ver.ª Maria Luiza está com a palavra.
A SRA. MARIA LUIZA: Bom-dia a todos,
cumprimento a Coordenadora dos trabalhos, Ver.ª Neuza Canabarro; o
representante da UAMPA, Sr. Valério, o nosso Conselheiro da Região, que colocou
com muita propriedade, aqui, essas observações em relação ao Plano Diretor.
Quero dizer que tenho acompanhado todas as Audiências; sou uma Vereadora nova
na Casa, mas não tenho dúvidas de que estamos diante de um grande desafio,
porque se trata de discutir a Cidade que queremos, a Cidade do futuro. Temos
questões que há muito tempo a Cidade vem reivindicando, como a questão da
regularização fundiária; temos inúmeras pessoas vivendo em áreas de risco, e o
crescimento da Cidade, não tenho dúvidas, tem sido, nos últimos anos, de uma
forma totalmente desordenada e fora de propósito, e isso já vem trazendo
conseqüências no dia-a-dia da Cidade. Este é o momento de a Câmara Municipal
fazer uma discussão ampla e profunda, no sentido de que a gente possa trabalhar
levantando sempre, e levando como prioridade, os interesses da coletividade.
Quero deixar bem claro que a minha participação e a minha discussão dentro do
Plano Diretor vão ter como prioridade a questão dos interesses da coletividade.
(Palmas.)
Não tenho dúvida de que este espaço que a Câmara proporciona, através
da discussão, da participação da comunidade, das lideranças, enfim, da
sociedade civil organizada, é um espaço de extrema importância e relevância.
Todas as reivindicações trazidas, aqui, estão sendo registradas e serão levadas
para a Câmara Municipal, para as Comissões, e nós estaremos atentos a todas as
reivindicações e a todos os pedidos. Afinal de contas, esse é o nosso papel. O
controle social passa, sim, pela sociedade civil organizada; o cidadão desta
Cidade contribui com impostos – e não são poucos, são muitos -, logo ele tem,
sim, o direito e o dever de opinar, de controlar e de fiscalizar. E nós,
Vereadores, somos a voz do povo que nos elege e temos que estar muito atentos à
forma com que vai ser conduzida a discussão do Plano Diretor dentro da Câmara
Municipal. (Palmas.)
Agradeço a atenção de vocês, não vou roubar muito espaço, porque estamos, aqui, mais para ouvir; houve pouco espaço de discussão para a população, para as lideranças, o meu recado é este, e estaremos atentos. Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MARIA ÂNGELA PELLIN
DE MOLNAR: Um bom dia a todos Vereadores; componentes da Mesa;
participantes desta Audiência Pública, venho representando o CCD, que abrange
quatro bairros da Zona Sul - Tristeza, Pedra Redonda, Vila Conceição e Vila
Assunção. Coloco aqui as nossas reivindicações, que são muito parecidas com as
da Ascomjip, e nos colocamos solidários nessa questão da proliferação dos
condomínios, que não nos agrada. Queremos casas com maior respeito à
privacidade. Não queremos mais morar em casas que parecem edifícios, amontoadas,
e também não é nosso desejo ver o nosso patrimônio, patrimônio histórico,
patrimônio cultural - e que existe, as pessoas pensam que não existe, mas
existe, sim – correndo riscos para que a construção civil coloque tudo abaixo e
nos transforme num grande parque de concreto. (Palmas.)
Uma outra coisa que nós também prezamos é a
preservação da Orla e também a preservação do Guaíba. Há muito tempo estamos
sendo ameaçados de ter esse paredão de concreto à beira do Guaíba. E não
queremos isso! (Palmas.) Nós queremos respeito ao nosso microclima! Nós
queremos árvores, queremos ter jardins e árvores com frutas. Não queremos mais
perder a privacidade para grandes prédios e ver o microclima dessa região
totalmente modificado, sem respeito àquilo que é a cidade de Porto Alegre e que
depende desse ar que vem da lagoa dos Patos para poder limpar, um pouco, o
clima das outras regiões. Nós queremos um Guaíba, limpo, para podermos beber,
dentro de alguns anos, da sua água, principalmente a população de baixa renda
que precisa disso, e não vai comprar água mineral para tomar banho. (Sic.)
Nós não admitimos a mudança da Lei para
beneficiar projetos como o Pontal do Estaleiro e nos deixar sem área para
acesso.
(Palmas.) Não queremos que o povo seja rejeitado num lugar que é seu; nós
queremos que o povo tenha o direito de chegar até o Guaíba, porque esta Cidade
deu as costas àquilo que ela tem de melhor, que é o lago. Não podemos aceitar
mais isso! (Palmas.) Esperamos, Srs. Vereadores, que a nossa participação nesta
Audiência não venha a cair no descaso, como em outras já caiu; nós queremos que
todos vocês estejam bem atentos àquilo que a população da Zona Sul quer. E uma
coisa tem que ficar clara: esta Região, que é tida como área nobre da Cidade,
também tem assentamentos irregulares, e essa gente precisa de dignidade para
morar. (Palmas.) Nós queremos a regularização dessas vilas, pois é delas que
saem todos os trabalhadores que mantêm esses bairros. Os seus filhos freqüentam
as mesmas escolas que os nossos filhos, de classe média ou de classe alta; eles
freqüentam o mesmo supermercado; eles têm acesso ao trabalho e usam os mesmos
transportes que todos nós usamos. Portanto, senhores, por gentileza, escutem as
nossas vozes e pensem muito bem na hora de remontar o Plano Diretor desta
Cidade! Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Com a palavra o Sr. Emerson
da Silva Rodrigues, da Associação dos Moradores do Chapéu do Sol.
O SR. EMERSON DA SILVA RODRIGUES: Bom-dia, Neuza! Bom-dia à
Mesa! Gostaria de falar uma pauta aqui. Nós temos que tratar a questão da
regularização fundiária. Hoje existem em Porto Alegre aproximadamente 600 vilas
irregulares. Temos que colocar esse povo no mapa da Cidade, gente, que esse
povo não existe, e são 600 vilas, entenderam? E vem Plano Diretor, sai Plano
Diretor, e isso não é resolvido! Temos as nossas demais vilas: a Vila dos
Sargentos, Ponta Grossa, Campo Novo, Morro Alto e as demais. Eu gostaria de
falar também da questão da pauta da colega que estava recentemente aqui, que é
a preservação ambiental dos morros e orlas. Gostaria também de falar para os
demais Vereadores que há projetos na casa, lá, é só eles verem, se unirem e
fazerem alguma coisa por esse povo da regularização fundiária. É isso aí.
(Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Obrigada, Emerson. Agora
chamamos a Sra. Ilca Souza Daniel.
A SRA. ILCA SOUZA DANIEL: Bom-dia a todos! Sou da
Secretaria de Justiça e Segurança, estou representando o Conselho de Justiça e
Segurança de Porto Alegre e o nosso Fórum Regional de Justiça e Segurança. O
meu nome não estava inscrito, mas me botaram porque eu sou “matraca” mesmo. A
única coisa que eu penso é: o que é nosso tem que ficar para nós; e, para ficar
para nós, vocês têm que fazer uma coisa: perguntar para nós se é bom. É a única
coisa com que eu me preocupo: façam o que fizerem, nos perguntem. Para entrar
na nossa casa, tu tens que bater e pedir licença; essa casa é nossa, a Região
Sul é nossa; então, para tudo o que pensarem em fazer aqui nos chamem! Nós temos
grandes lideranças, temos grandes associações, grandes clubes de mães, nós
temos várias entidades diferenciadas que há anos fazem um grande trabalho aqui
na comunidade, e não é certo meia dúzia de “gatos pingados”, como está sendo
visto, fazer o nosso trabalho. A minha proposta é esta: nos chamem, a gente vai
a qualquer lugar. A gente paga para trabalhar nesta Cidade. Como lideranças
comunitárias, a gente já vem há anos pagando para trabalhar; a gente não ganha
dez centavos em fórum nenhum, em conselho nenhum, associação nenhuma, dentro do
OP, fora do OP, na Governança, e a gente está se dispondo a fazer um trabalho
grande e melhor para a Região Sul. Eu, como representante de Segurança, endosso
tudo o que foi dito e o que vai ser dito depois, porque eu participo de tudo
aquilo em que eu posso, mas eu não aceito, como cidadã, como moradora, como
criança que fui, começar a ver tudo aquilo que foi criado, proposto, se perder,
porque meia dúzia de pessoas tomaram a decisão por mim, pela minha família,
pela minha comunidade, e pelo Governo, que está sendo feito, neste momento,
através da cabeça de todo o mundo. Governo não é um; somos nós, nós fazemos o
governo, e aquilo que a gente quer é o respeito por nós; é como aquele papel
que a gente exerce dentro de casa. Como representante legal de uma instituição
familiar, nós também somos representantes de uma instituição comunitária, nós
somos comunidades, e, independente de pensamentos diferentes, a gente quer a
mesma coisa. Nos perguntem, nos indaguem: “É bom para vocês? É bom para a
comunidade de vocês”? Aí, a gente vai junto com vocês, Vereadores. Se vocês não
nos perguntarem, a gente não vai. E não adianta tentar nos separar, porque a
gente trabalha unido, independente da nossa linha de pensamento, aqui. Nos perguntem,
nos chamem, que a gente vai. Bom-dia! (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Obrigada, Ilca. O próximo
inscrito é o Gladimir Dantas, pela Associação de Moradores da Vila Nova.
O SR. GLADIMIR DANTAS: Inicialmente, eu gostaria de
dar um bom-dia, uma saudação à Ver.ª Neuza Canabarro, coordenando os trabalhos;
ao Nadruz, pelo Fórum aqui da Região Centro Sul-Sul, e ao Valério, pela União
de Moradores de Porto Alegre, a UAMPA. Falo em nome da Associação de Moradores
da Vila Nova. Entendemos que esse processo que se iniciou, dito como de
“Revisão do Plano Diretor” se apresenta ainda bastante insuficiente para tratar
dos temas que estavam colocados no atual Plano. Na verdade, o tema “revisão” se
coloca, para a questão da Macrozona 1, com relação à questão das alturas, que,
de fato, é o tema que vem sendo tratado e que se pode dizer como “revisão”, que
trata essa questão das alturas. Na verdade, os demais temas que nós, enquanto
moradores, gostaríamos de estar tratando nesse processo - e por isso existe uma
certa insatisfação da população - envolvem a questão da regulamentação. Eu
tenho vários temas que inclusive já foram colocados aqui nesta Audiência e que
tratam sobre a questão da regulamentação. Por exemplo, a questão da
cidade-jardins, que é um conceito que ninguém é contra. Eu acho que todos os
moradores de Ipanema, da Região Sul, são favoráveis ao conceito da
cidade-jardins. Qual é o questionamento? É que não tem regulamentação hoje para
tratar esse tema, e as coisas continuam acontecendo conforme a visão, o
entendimento de um e de outro, quando os projetos são analisados na Prefeitura;
é quando são encaminhados pelos empreendedores e são analisados. Não tem ainda
uma regulamentação que defina a questão da densidade, por exemplo. Eu acho que
a mesma questão envolve a questão das áreas de preservação ambiental. Está
previsto no Plano que nós temos que gravar as áreas de preservação ambiental do
Município, mas até agora isso não foi feito. Então, existe uma insatisfação por
parte dos ambientalistas com relação a essa questão, porque gostariam de ver
nessa proposta que está sendo encaminhada a regulamentação das áreas de
preservação ambiental (Palmas.) Isso a gente não está enxergando, e essa é a
indignação. Da mesma forma, a questão do tema da reforma urbana, da questão da
regularização fundiária; é outro tema que está colocado no Plano Diretor, quer
dizer, as áreas de habitação de Interesse Social. Existe ainda uma falta de
vontade política com relação a essa questão, e também não estamos enxergando a regulamentação
das áreas, tanto as vilas irregulares como os loteamentos irregulares foram
sendo construídos na nossa Cidade, e novamente ficamos decepcionados quando não
enxergamos, na proposta, a regulamentação dessas áreas para que essas
populações possam encaminhar os seus processos de regularização através do
usucapião (Palmas.) nas áreas públicas, através da concessão especial de uso.
As pessoas não podem encaminhar, porque essas áreas não são reconhecidas. Aqui
na região, nós temos várias: Vila dos Sargentos, Beco do Adelar, Sapolândia,
enfim, há quantidade de vilas que temos aqui na região que poderiam já estar
num processo de regularização e que não estão, porque ainda não têm esse
reconhecimento como Área Especial de Interesse Social para podermos processar o
encaminhamento da regularização fundiária.
Então, o que colocamos para a Câmara de Vereadores é a tarefa de como
resolver essa questão nesse processo que vão receber, onde, de fato, se avança
nessa discussão com relação às alturas, e de fato esse tema está bem debatido e
há condições de a Câmara de Vereadores analisar e, enfim, aprovar o projeto que
seja melhor para a Cidade, e a própria questão das Áreas de Interesse Cultural
também. Bom, tem conteúdo, tem condições de a Câmara de Vereadores analisar e
aprovar aquilo que é melhor para a Cidade, mas existem temas fundamentais para
a Cidade e que a Câmara de Vereadores não vai receber conteúdo para poder
analisar e aprovar. Essa é a questão que nós queremos aqui colocar para os
Vereadores, ver de que forma vamos avançar na discussão da regularização
fundiária nas áreas de preservação ambiental, que são duas questões que para
nós são fundamentais nesse processo e que precisam de regulamentação para que a
gente possa avançar. Então, esse é o nosso pensamento e o nosso desejo, de que
a Câmara de Vereadores possa fazer esse questionamento junto ao Governo, para
que avance nesses temas e que a gente possa fazer com que a Cidade se
desenvolva cada vez mais. Eu acho que conceito o Plano Diretor tem bastante.
Não é problema de conceito, o problema é a regulamentação. O outro conceito em
que eu acho que a gente avançou bastante na Cidade é o conceito sobre a área
rururbana, outro tema que para mim é um conceito superimportante, mas que
também não avançou, ficou só no conceito. Há muita coisa ainda para ser
regulamentada com relação a esse tema. Então é isso. Obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): O Sr. Felipe de Oliveira,
do Porto Alegre Vive, está com a palavra.
O SR. FELIPE DE OLIVEIRA: Srs. Vereadores, senhoras e
senhores, o nosso Plano Diretor atual está errado, ele é inconstitucional,
tanto no aspecto do Estatuto da Cidade, quanto no aspecto da Constituição
Estadual. Ele permite o assassinato de residências. Isso que o meu amigo Eduíno
falou, do roubo do sol do inverno, quem é aqui da Zona Sul sabe muito bem.
Lá na nossa zona, são as torres sem os devidos afastamentos; aqui são os
condomínios com excesso de área construída, com nove metros e meio, encostados
na divisa. Se há alguém aqui que teve o seu sol roubado por um condomínio
desses, o senhor foi espoliado, roubado, apoiado pelo Plano Diretor, que, na
minha opinião, é completamente ilegal, porque ele não está de acordo com leis
maiores, Estatuto da Cidade e Constituição Estadual. Então, já existe a brecha
para os senhores irem para a Justiça, que talvez seja, no fim de todo o
processo, o nosso último recurso. Porque nós já recorremos ao Executivo,
estamos recorrendo aqui, desesperadamente, ao Legislativo, já tentamos recorrer
ao quarto Poder, que é a imprensa, mas eles não nos dão ouvidos, que eles
também são dominados por poderes estranhos, e só nos vai restar o Judiciário.
Onde tudo começou? Tudo começou na duplicação dos índices, em 1987. Foi na
Administração Alceu Collares, sim. Duplicaram os índices, e índice é o quanto
se pode construir num terreno. Eles duplicaram. Não existe um Plano Diretor no
mundo que possa resistir à duplicação dos índices. Na época, como foi
denunciado pelo Ver. Paulo Sant’Ana, estupraram Porto Alegre. O Vereador do PT
diz que foi culpa da Administração Collares; não, lá começou. Durante os 16
anos em que o PT esteve no poder, o PT foi sempre conivente com esse processo.
Eles diziam que era um problema dos burgueses, pessoal lá do sétimo, oitavo
andar que não queria ter o seu sol roubado, e isso aí vai terminar estourando
em todo mundo. Hoje, são as torres; amanhã, são os condomínios. O
excesso de área construída é inadministrável, aliás, a maneira como estão
tentando administrar o Plano Diretor, em Porto Alegre, é inadministrável,
porque estão tentando contemplar a todos, e quem comanda o processo são os
interesses econômicos. Só não vê quem não quer! Nós vimos esta Audiência
Pública, comandada pelo Secretário Municipal do Planejamento, ele serve a quem?
A todos que fizeram aquela armação toda, tudo com dinheiro que vem do poder
econômico, de quem está mandando o nosso processo do Plano Diretor, de quem
está destruindo. Porto Alegre está ficando uma Cidade feia; a Zona Sul, que era
um dos lugares mais bonitos de Porto Alegre, está ficando feia, há excesso de
área construída, há falta de cuidado com o meio ambiente, há falta de cuidado
com tudo. Porque, quando se constrói errado e matam residências, aí surgem as
demandas de energia, porque os ricos, quando roubam o seu sol, eles botam
ar-condicionado, botam lareira, eles têm dinheiro; o pobre, morre. Isso está
sendo permitido. Ou morre, ou abandona a casa, ou tem que vender por muito
menos do que vale, e ninguém indeniza, porque isso aí é, sim, questão de indenização.
Por exemplo, se a tua casa valia 80 mil, eles a mataram, agora ela vale 40 mil,
quem é que vai te pagar os outros 40 mil? É quem roubou. E quem é que roubou? É
quem construiu. Só que estava amparado por um Plano Diretor ilegal, porque não
está de acordo com a Constituição Estadual e nem com a Constituição Federal.
Então, isso aí já dá margem a processo, sim, e é o que vai nos restar. Se
continuar, Srs. Vereadores, os interesses econômicos comandando o processo, é
isso que vai nos restar, porque nós não temos tido respaldo, nós não temos tido
eco. Nós estamos, há horas, clamando e estamos, há muito tempo, na luta. O
Vereador veio aqui dizer que não, mas nós estamos, há muito tempo na luta, só
que nós viemos, sistematicamente, perdendo, perdendo. Eu digo, senhores, que
arquitetura e urbanismo são departamentos da geografia, é matéria técnica, nós
temos grandes arquitetos, grandes urbanistas, nós tivemos já um Plano Diretor
que era citado, no mundo inteiro, como exemplo de Cidade que conseguiu conter a
verticalização excessiva e conseguiu conter os exageros do poder econômico, só
que esse pessoal foi perdendo força, nós deixamos essa máfia, que está tomando
conta, se instalar, e agora nós temos que enfrentar de frente.
Um problema sério: a nossa reivindicação,
quando mandamos para a revisão do Plano Diretor, era justamente a constituição
do Conselho do Plano Diretor. Eu tenho convicção de que os grandes interesses
econômicos, os grandes construtores não precisam participar, a gente já sabe o
que eles querem, tudo que for liberado eles vão construir, então, eles não têm
que participar. A reivindicação deles é muito clara: se liberarmos quatro
andares, eles farão os quatro; se liberarmos cinqüenta, eles farão os
cinqüenta. Cabe ao Poder Público disciplinar o poder econômico. (Palmas.) E
como matéria técnica, em nome da qualidade de vida, em nome da preservação do
planeta que está muito mais além, a gente não se dá conta, a gente constrói
errado, os ricos vão ter dinheiro, vão pagar, mas a demanda de energia que a
construção errada requer, é insustentável, o planeta não dispõe dessas reservas
de energia; não é Porto Alegre, é o mundo. Se continuarmos construindo errado,
nós vamos exigir uma demanda de energia da qual não dispomos, isso está na
contramão da preservação da vida. E nós temos que ter bem claro que isso é
matéria técnica, o companheiro Nadruz entende muito do assunto, nós
temos vários arquitetos, vários urbanistas competentes em Porto Alegre. Nós não
somos igual ao resto do Brasil, porque a demanda no Rio de Janeiro é diferente.
Uma vez um carioca me disse que quando eles tiram o sol, a gente até gosta;
claro, lá é muito quente. E aqui, Deus nos ajudou, São Pedro, que é gaúcho, fez
um inverno bem frio, bem úmido. Hoje, está um dia típico, e hoje, se aparecer o
sol, quem não vai querer ficar no sol? É só olhar as pessoas, vai todo o mundo
para o sol. Lá na Reitoria, quando houve aquela armação dos construtores, a
gente via aquela gente toda no solzinho, estava um frio desgraçado. Tomara que
seja sempre assim, tomara que no Rio Grande do Sul continue havendo inverno,
porque é sinal que o planeta está saudável. O dia em que não tivermos mais
inverno, o planeta morrerá. Disseram-me isso num condomínio de luxo que estão
fazendo na minha zona, quando fui ver um apartamento, o apartamento da frente
norte estava mais barato do que o apartamento da frente sul, e eu disse: espera
um pouquinho, o de frente norte é maravilhoso, eu ia comprar logo esse, e o
cara disse: “Não, mas agora com negócio do aquecimento global daqui a dois anos
não vai haver mais inverno, e aí ninguém mais estará ligando para isso, ninguém
mais quer sol”. Isso é argumento de venda, lá na nossa Zona, condomínio de
luxo, um bairro novo que estão criando, uma aberração do ponto de vista arquitetônico
e urbanístico, permitido pelo Plano Diretor, porque aquilo não é projeto
especial, está tudo dentro do que o Plano Diretor permite, afastamento de 18%.
Isso é uma estupidez, é a mesma estupidez que condomínios cheios de casa, com
excesso de área construída, de três ou quatro andares, inclusive com
(Ininteligível.) para baixo, encostando 9m e meio na divisa, e matando a casa
do lado. Isso é inadmissível, e isso é matéria técnica. E nós entendemos do
assunto.
Então, não me venham com essa que é muito difícil.
O Fortunati disse que essa é uma matéria muito difícil. Não é difícil, é
difícil quando se quer contemplar interesses que não têm que ser contemplados,
aí não é difícil, é impossível.
Aqui, em Porto Alegre, da maneira como está
sendo conduzido o processo, vai levar ao desastre, quando o poder econômico
comanda, como aconteceu com a TAM, quando o lucro está acima de tudo, e o resto
todo é relevado, vai para o desastre, e nós já estamos chegando ao desastre.
(Palmas.) Aqui vocês ainda não estão destruídos, lá há muitos bairros que já
estão comprometidos, no Centro, ninguém mais quer morar.
(O Ver. Comassetto assume a presidência dos
trabalhos.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos
Comassetto): Agradecemos ao Felipe de Oliveira.
Só para fazer uma pequena correção, o Ver.
Sebastião Melo que falou da duplicação, não é do PT, é do PMDB.
A Ver.ª Neuza Canabarro, representando o
Partido Democrático Trabalhista, está com a palavra.
A SRA. NEUZA CANABARRO: Senhoras
e senhores, cada Vereador de Bancada se inscreveu por cinco minutos, e eu
fiquei para o final, pois considerei que era o momento acertado de falar. Quero
dizer que eu estou falando, aqui, como cidadã que tem preocupação com Porto
Alegre do futuro. A nossa situação exatamente é o meio ambiente que está sendo penalizado. E aí eu faria
uma colocação que, na minha tese de doutorado, eu afirmo que não acredito que
nenhum político, Rossetto, assuma o Governo com intenção de fazer mal, não,
sempre tem intenção de trabalhar pelo melhor, até porque não é burro. É lógico
que nós sabemos que há as conjunturas, as pessoas que dominam e que destorcem,
porque os Partidos e os políticos não são só santos, quer dizer que tenham
sublimizado o pensamento, são pessoas que pensam e que estão passíveis de serem
influenciadas e até corrompidas.
Nós pensamos Porto Alegre há 20 anos, quando passamos, com o Collares,
pela Prefeitura de Porto Alegre. E o Collares, às vezes, quando andamos pelas
ruas, diz: “Meu Deus, o que se transformou? O que é isso? O que são esses
edifícios?” Talvez, na época, algum erro tenha sido cometido.
Mas o que eu digo agora é que não cabe encontrar culpados, nós estamos
tendo uma oportunidade única de corrigir! E aí falta uma coisa muito
importante. Sabe o que está faltando? Avaliação do Plano Diretor, eu quero uma
avaliação dos técnicos de forma clara: “Aqui ocorreram desvios. Aqui não foi
feito nada”.
Eu, em 2005, no primeiro ano do meu mandato, fui a Brasília para o
Seminário oferecido pelo Ministério das Cidades. Para quê? Para me
instrumentalizar. Eu já participei de uma Administração, eu sou uma cidadã com
um nível médio de entendimento; três anos estive no Conselho do Plano Diretor,
mas necessitava uma atualização. E essas nossas reuniões estão abrindo os olhos
dos Vereadores, e aqui eu fico indignada, eu disse para os meus Vereadores:
vejam bem, em época de campanha a gente sai para saber quais são as
expectativas da população, agora, quando eles querem falar em conjunto,
representando uma comunidade, não comparecem. Os 36 Vereadores eram para estar
presentes aqui para colher com vocês o que se tem de mais importante. (Palmas.)
Então, quero dizer que nós, na Câmara de Vereadores, vamos analisar com muita
responsabilidade para votar, com certeza, aquilo que a população está já
necessitando.
Eu trabalho com o meio ambiente na minha casa. A cada ano, eu penso o
que vou fazer na minha casa. Até dezembro, eu quero o quê? Aquecimento solar
para fazer economia de energia elétrica e caixa coletora da água da chuva para
usar nos meus banheiros, no meu jardim. Então, isso que nós estamos fazendo é
questão de educação, e precisamos estimular para que mais gente compareça e
que, durante a votação do Plano Diretor, façam pressão, sim, lotem as galerias
e estejam lá para dar respaldo para aqueles que estão trabalhando para o bem da
população. Obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Carlos Comassetto): Obrigado, Ver.ª Neuza
Canabarro.
A Iole Kunze, representante da Associação dos Moradores do Bairro
Ipanema, está com a palavra.
A SRA. IOLE KUNZE: Bom-dia Vereadora; Valério;
Ver. Comassetto; Nadruz, nosso incansável representante da Região aqui no
Conselho, na maioria das vezes minoria no Conselho e sempre lutando pelos
nossos interesses. Eu não posso deixar aqui de atender o chamado à provocação
do Ver. Sebastião Melo, que me parece que já foi embora, quando ele diz que
tinha Governo quando o outro Plano Diretor foi votado, e fala sobre o processo
de elaboração do Plano. Quero lembrar aqui, e aí quero discutir a questão do
próprio processo de elaboração e agora de revisão do Plano, que nem sempre
garante que o Plano vai ser aquilo que a população precisa.
O Plano votado em 1999 - eu era Vereadora suplente e votei esse Plano,
em 1999 - foi amplamente discutido na sociedade, através de audiências
promovidas pelo Executivo, através dos Congressos da Cidade. O Congresso de
1993, que discutiu a Cidade constituinte, principalmente o Congresso de 1995
que discutiu especificamente o Plano Diretor. O próprio Secretário de
Planejamento percorria as regiões da Cidade, discutindo o Plano, isso não
garantiu que o Plano fosse aquilo que a Cidade precisava.
Na Câmara de Vereadores a indústria da construção civil conseguiu
aumentar a altura dos prédios e diminuir a distância entre eles. E conseguiu
manter a área do terreno de 75 metros quadrados, com um discurso, na época, que
virou senso comum nas reuniões e nas audiências que se fizeram junto com a
Secretaria de Planejamento, de que o terreno de 75 metros quadrados iria
democratizar o acesso ao solo. E aquele que se manifestasse contra, como eu me
manifestei, a nossa Região ficou enlouquecidamente contra o terreno de 75
metros quadrados, porque nós sabíamos da degradação e da falta de estrutura que
se tinha para sustentar isso, era tachado de burguês que não queria que a
população de baixa renda tivesse acesso à moradia. O que nós temos hoje? Casas
construídas em terrenos de 75 metros quadrados em Ipanema, que custam de 250 a
300 mil reais, então foi isso que aconteceu. (Palmas.) A construção civil
calou-se, por quê? Porque já se começava a se discutir a questão das alturas,
então tinha que se horizontalizar para ganhar dinheiro.
Então, hoje, o que acontece? Nós temos uma falsa polêmica com relação
às alturas. Por que está se discutindo só a altura no Plano Diretor? Porque há
uma região da Cidade que era mais afetada por isso e que se mobilizou e fez
pressão, porque o Poder Público se movimenta através de pressão; quem mais
pressiona é que leva, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Por que o
Congresso 2003 saiu com o tema da questão das alturas como tema prioritário
para revisão do Plano? Porque era o que atingia a população de Porto Alegre,
foi o que mais se mobilizou, o Movimento Porto Alegre Vive começou em função
disso aí. Então, hoje só se discuti, na Macrorregião 1, os problemas das
alturas. E deixou-se de lado e nem sequer foi colocado na discussão o documento
levado aqui pela Região que discuti a questão do tamanho dos terrenos para
construção.
Então, não nos iludamos que uma simples Audiência, um simples processo
de Audiência possa fazer com que a gente consiga... Se não houver pressão e
muita fiscalização do que está acontecendo, nós vamos terminar... Então, eu
quero aqui dar esta resposta ao Ver. Sebastião Melo, que me pareceu estar
dizendo que agora a coisa vai ser garantida porque a gente tem Audiência. Não é
bem assim, não é verdade!
Uma outra questão que alguém trouxe aqui é a questão das áreas públicas
e da função social da terra. Eu quero dizer que me preocupa muito quando se
pensa que área pública deve ser ocupada para moradia; área pública é pública,
não deve ser ocupada para nada; deve ser livre para uso público; nem para
especulação comercial, nem industrial e nem para moradia. O que nós temos que
controlar é o uso dos próprios municipais. E aí eu quero dizer que é lamentável
que a mesma Câmara de Vereadores que hoje está fazendo estas Audiências,
preocupando-se em ouvir a população, não ouviu a população e não se lembrou das
20 mil famílias em área de risco, quando, na 1ª Sessão desta Legislatura, foi
votada a Lei nº 048, que permite que o Poder Público, que o Executivo aliene
imóveis em toda a cidade de Porto Alegre. Quer dizer, nós temos 20 mil famílias
em área de risco. ´
Aí, eu quero dizer que também
não nos iludamos com aqueles que dizem: “Ah, o solo tem que ser para os que
precisam, tem que se fazer a reforma urbana para dar moradia a quem está em
área de risco”. Aqui em Ipanema, nós temos quase meio hectare de terra, ali na
Rua Déa Coufal, ao lado do Condomínio Riverside, que está lá liberado para ser
vendido por 258 mil reais, que é o que custa um sobradinho desses em terreno de
75 metros quadrados. E é essa a Câmara de Vereadores que está nos ouvindo.
Então, vamos tomar muito cuidado para estar lá na hora, porque nenhum Vereador,
que eu saiba, se levantou e disse: “Não, aqui nós não queremos vender os
terrenos da Prefeitura por 258 mil reais, vender quase meio hectare, para pegar
esse dinheiro, e dizer que vamos tentar comprar uma área lá no Chapéu do Sol
para colocar milhares de famílias em terreninhos de 40 ou 50 metros quadrados”,
que foi isto o que foi proposto. Quer dizer que a função social da propriedade
pública - porque é propriedade pública, é próprio municipal - para moradia é
essa; tu pegas uma área nobre aqui, mas tu não botas as pessoas que estão em área
de risco para morar, porque tu não queres entrar em conflito com a população,
classe média, meia média, sei lá, que mora aqui em Ipanema. E isto é dito pelo
próprio Secretário: “Nós não podemos usar essa área para reassentamento para
garantir a função social da terra, porque a área é nobre”. Então, não adianta
vir com a ilusão de que nós estamos reformulando o Plano e garantindo o
Estatuto da Cidade; não é vendendo o filé mignon e tentando comprar
“carne de pescoço”, lá do outro lado da Cidade, que nós vamos garantir moradia
para a população, e nem mantendo um terreninho de 75 metros quadrados é que nós
vamos fazer com que a população de baixa renda tenha acesso a terra. Nós temos
que ter muito cuidado com as falácias, com as verdades que acabam sendo senso
comum e que não são verdades. Como a questão de que o grande problema são as
alturas. O grande problema é o adensamento que a estrutura é incapaz de
absorver, que é o que está acontecendo aqui com as macrodrenagens feitas lá na
Hípica; já está alagando no Arroio do Salso, na Ponta Grossa, porque recolhe
toda a água e joga toda, de uma vez só, no Arroio, e não há arroio que resista.
Então, não vamos nos iludir. E a construção civil está usando esse
discurso de “que tem que construir para dar emprego”, e é por isso que passou
os 75 metros quadrados, em 1999, o que já existia antes e se manteve. Porque,
quando alguém abria a boca, diziam: “Ah, a burguesia não quer que o povo de
baixa renda tenha terreno”. Continua sem terreno; a Prefeitura, que diz estar reformulando,
defendendo, vende por mixaria uma área ali, e tem 20 mil famílias em área de
risco em Porto Alegre. Obrigada. (Palmas.)
(A Ver.ª Neuza Canabarro reassume a presidência dos trabalhos.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): O Sr. Rolf Naumann, da
Associação dos Amigos do Bairro Higienópolis, está com a palavra.
O SR. ROLF NAUMANN: Presidenta, bom-dia à Mesa,
bom-dia a todos, o bom filho à casa volta. Vocês estranham: “O que Higienópolis
está fazendo aqui?”. Acontece que eu já morei 30 anos aqui (Palmas.), 600
metros aqui para cima. (Manifestação fora do microfone. Inaudível.) Muito
obrigado. Na época, a Av. Cavalhada se chamava, muito mais bucolicamente, Lomba
do Capitão Alexandre - não sei se ainda usam este nome hoje, ninguém sabe.
Vejam o que já se perdeu aqui, além de outras coisas, como sol, ventilação,
etc.
Com o que eu queria contribuir aqui? Nós, em Higienópolis, convocamos o
Bairro todo para uma assembléia para discutir o Plano Diretor. Não me consta
que alguma associação tenha feito isso; devem ter discutido em reuniões de
diretoria, mas nós convocamos a população e elegemos alguns temas importantes
para discutir e votar. Surgiram cinco propostas: algumas delas, os técnicos da
Prefeitura nem encaminharam, porque acharam tecnicamente inaproveitáveis - nós
respeitamos isto -; quatro delas foram incluídas na discussão da Audiência
Pública. Nós tivemos oportunidade de defendê-las, e eu me animei em defender a
primeira, mas o resultado foi tão desastroso que eu desisti de defender as outras.
Desastroso, porque fui voto vencido naquela avalanche de votos que estavam
sendo conduzidos.
Eu quero só ler para vocês o texto de uma sugestão, que, no nosso
entender, resolveria muitas questões, muitas polêmicas, muitas divergências
entre vizinhos, se houvesse no nosso Plano esse artigo que, diga-se, está
trazendo determinações do Estatuto da Cidade. O Plano, como vocês sabem, entre
outras, teve a finalidade de incorporar a Lei maior, a Lei do Estatuto da
Cidade. Fez isso, mas, em nosso entender, não da forma tão completa quanto
podia ter feito. E aí, aproveito a palavra que surgiu na primeira intervenção:
Porto Alegre podia ser vanguarda para mostrar ao resto do País, quem sabe do
mundo, que as condições do tempo, do clima do mundo, têm que modificar o nosso
modo de vida, senão, daqui a 100 anos, pessoal, este mundo estará muito, muito
mal. Nós redigimos o art. 121 - A. Nós somos práticos e já fizemos uma
proposta; não só reclamamos e fizemos reivindicações: fizemos uma proposta. A
justificativa da proposta praticamente já foi feita em diversos pronunciamentos
a que aqui assistimos, e em posicionamentos realmente muito qualificados. A
aprovação, diz este artigo, de projeto e licenciamento de edificação - entre
parênteses, “de qualquer edificação”, parêntese meu -, depende de comprovação
de que não prejudicará sua vizinhança, sob o ponto de vista ambiental, como
insolação em ambos os solstícios, ventilação, arborização, esgoto pluvial e
esgoto cloacal, fluidez de trânsito, poluição sonora e odora, adensamento
populacional e paisagem urbana. Parágrafo 1º: a forma de comprovação - e é isto
que é o calcanhar-de-aquiles -, a forma de comprovação exigida neste artigo
será estabelecida pelos órgãos municipais pertinentes, visando à boa tramitação
dos processos, sem prejuízo da participação e manifestação da respectiva
comunidade vizinha. Parágrafo 2º: cada projeto será acompanhado de simulação do
efeito da edificação sobre a paisagem existente nas quadras vizinhas, bem como
do seu sombreamento produzido nos solstícios de inverno e de verão. Só. Isto,
claro, nós sabemos que envolve mais trabalho, mas eu posso imaginar que, hoje,
na era da informática, isto tudo pode ser programado, pode ter seus programas,
não é difícil, é só querer. E eu apelo para os Vereadores para que examinem
esta proposta que eu vou encaminhar novamente, agora, à Câmara, e que a
examinem com cuidado. Vejam o que se pode aproveitar; certamente pode ser
melhorada, mas o apelo fica aqui, acho que é do interesse de todos nós e da
Cidade. Obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): Com a palavra, o Sr. Gabriel
Maria Duarte Centeno, que é o Presidente do Conselho da Vila Nova.
O SR. GABRIEL MARIA DUARTE CENTENO: Bom-dia a todos, bom-dia à
Mesa, bom-dia à plenária. O tema que eu quero abordar, dentro da idéia de Plano
Diretor, está centrado na temática da Segurança Pública. Nós, como entidade -
Consepro da Vila Nova, que significa Conselho Comunitário Pró-Segurança
Pública, nós conduzimos a entidade, não só dentro da visão de polícia, mas,
sim, das causas, dos fatores atrelados à insegurança pública na nossa Cidade.
Então, nós compreendemos e temos a clara idéia de que a violência nesta Cidade
começa na família; ela começa lá no alcoolismo, ela vem para dentro das
escolas; enfim, ela envolve pais, alunos e professores; envolve o papel da
Guarda Municipal dentro das Escolas Públicas Municipais, evidentemente; envolve
a relação da Guarda Municipal com as demais polícias, a Brigada Militar e a
Polícia Civil; envolve o Município, enquanto prestador de serviços nas mais
diversas áreas: da Saúde, da Educação, da Segurança Pública, onde ele tem um
papel também importante e fundamental na questão da prevenção à violência. E a
conclusão a que nós chegamos, olhando para o contexto da Cidade, é de que a
Cidade é mal planejada no sentido da prestação dos mais diversos serviços, e
tento justificar: a nossa Cidade está organizada, planejada, em oito grandes
áreas administrativas. No entanto, nós pensamos as políticas públicas e
discutimos as políticas públicas desta Cidade através de 16 Regiões, as Regiões
do Orçamento Participativo. E, olhando para um contexto maior, quanto à
prestação específica dos serviços pelas mais diversas
Secretarias, a gente chega à conclusão de que os serviços não chegam em boa qualidade
e quantidade às pessoas porque não há integração na prática, na prestação
desses serviços. Assim, aumento dos custos, impostos e o retorno à sociedade
são precários. Eles não estão no mesmo nível daquilo que o cidadão comum, que
todos nós pagamos em termos de impostos.
Então, dentro desta lógica, evidentemente, o
Plano Diretor deve pensar a Cidade também a partir de como chegam os serviços a
cada um de nós, a cada cidadão; de como criar formas que possam estar
barateando esses serviços, de forma que esses serviços sejam melhor
qualificados e melhor prestados.
Dentro da perspectiva da Segurança Pública,
nós queremos deixar, enquanto entidade, dois encaminhamentos para que sejam
avaliados pela Câmara de Vereadores, na forma de Emenda na revisão do Plano
Diretor.
O primeiro encaminhamento, olhando para o
meu bairro Vila Nova: nós estamos pedindo que seja gravada a área do Campo do
Periquito, para o desenvolvimento de Projeto Integrado de Segurança Pública com
Cidadania. Segundo encaminhamento: que sejam instituídas em Porto Alegre as
Áreas Integradas de Segurança Pública com Cidadania, a exemplo do Projeto de
Lei que tramita atualmente na Câmara de Vereadores, de autoria do Ver. Carlos
Todeschini. Era isto, muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): Com a palavra o próximo inscrito: Hamilton Viegas,
Conselheiro do Orçamento Participativo da Região Sul.
O SR. HAMILTON VIEGAS: Ao
cumprimentar a Vereadora-Professora Neuza Canabarro, nossa vizinha aqui do
bairro de Ipanema, queria cumprimentar todos os presentes. Primeiro, eu sou do
Orçamento Participativo, e acho que o Orçamento Participativo não é a
institucionalização da demanda, do pedinte. Eu gostaria, só para ter esse
exercício - mas não só esse -, pedir para o Paulinho, que é arquiteto, que
pudesse fazer um cálculo para nós: se todos os edifícios da Cidade fossem
colocados na horizontal, caberiam dentro do território de Porto Alegre? E por
que esta provocação? Para a gente fazer uma adequação, que não é tudo para
cima, mas nem tudo para os lados. E essa adequação se faz necessária para
compreender a Cidade.
Eu recebi um Plano Diretor que talvez seja
da época do Sr. Hohlfeldt, quando ele morava aqui na Estrada da Cavalhada,
porque eu sou morador dali desde 1958; o meu avô foi fundador de uma rua,
porque tinha comprado um sítio ali no início do século passado. E o Plano
Diretor definia por bairros as alturas das edificações. E quem pede o
alargamento de estrada - e se pedirem aqui ou deixarem escrito, se pedirem, o
pessoal lá do Jardim Isabel, o alargamento da Av. Coronel Marcos, vai separar o
bairro de Ipanema da Pedra Redonda numa cortina de edifícios maior do que é o
prédio, hoje, da ABB, que tem cinco andares. E ali serão permitidos seis; quem
morar na Pedra Redonda não vai enxergar o Morro do Osso; e quem morar no Morro
do Osso não vai enxergar a praia, o antigo balneário da Pedra Redonda.
Então, temos de estar atentos. Porque eu vim
para o Orçamento Participativo não para pedir obras e, sim, para impedir obras.
E eu vou lhe dizer uma coisa, Dona Neuza Canabarro: uma foi nesse Parque; nós
não queríamos, porque armaram de colocar aqui uma Unidade de Assistência
Social. Imaginem se quem mora lá na Vila, lá na Vila dos Sargentos, viria a pé
até aqui para pedir uma passagem de ônibus!
Mas, falando em passagem de ônibus, a Dona
Iole, Presidenta da Associação de onde eu moro, me pediu para que eu, hoje, a
trouxesse até aqui, porque ela estava impedida de transitar para chegar aqui,
porque dentro do Parque de Esportes Ipanema foi colocada uma linha de ônibus, a
linha T-11; está um barral ali que ninguém entra. E ocorre o quê?
E aí eu quero resgatar algumas coisas que para mim não são frases de
efeito, não. Fazer para quem mais precisa. Mas vem cá, eu que sou o mais pobre
daqui tenho um Opala e vou para o Centro de carro, vou para a Zona Norte de
carro. Será que quem mais precisa é quem mora em Ipanema? E o pessoal da
Serraria e da Hípica? E se o Prefeito diz que não quer mais ônibus na Cidade,
por que ele não coloca T para eu ir direto para a Zona Norte, para quem sai da
Serraria para o Partenon? Não. Tem que ir para o Centro. Porque quem mora na
Serraria, quem anda de ônibus, vai para o Centro. Quem mora na Hípica e anda de
ônibus vai para o Centro, não tem o T. Então, isso aí é como diz a dona Iole:
não ter ilusões. Na Resolução n° 91 da II Conferência de Esportes e Lazer foi
colocado que o Parque de Esportes de Ipanema deve cumprir a sua finalidade
legal, e que deve ser de esporte, lazer e recreação. Agora virou terminal de
ônibus. Hoje eles tiraram, Vereadores, mas chega ter 10, 12 ônibus estacionados
onde as crianças passam, colocando as pessoas em situação de risco. Aí, nós
telefonamos para o Secretário - e eu gostaria que a senhora ajudasse - e ele
diz que foi ele quem emprestou e que aquilo ali é estacionamento. Bom, se é
estacionamento, não é terminal de ônibus. Imaginem vocês da Cidade se fizessem
um terminal de ônibus em cima do Parque da Redenção. Não é? Este tipo de coisa
não é porque a gente não quer, a gente quer que passe por dentro de Ipanema,
mas que ele vá aos rincões onde precisam. Então, nós temos que ter um Plano
Diretor de Transporte Público se não querem mais ônibus lá dentro da Cidade.
Ouviu, Felisberto, tu és um lutador na questão da Av. Salgado Filho, e isto vai
evitar que muitos ônibus vão para a Salgado. É bom que o Ver. Comassetto esteja
aqui, porque uma das lutas da gente é que queriam colocar aqui um Pronto
Socorro e nunca iriam ter dinheiro para fazer; então, pedimos uma ambulância,
lá no ano 2000. E a Prefeitura disse que não era bom colocar na frente do Posto
de Ipanema, senão os pobres, até por unha encravada, iriam querer voltar
para casa de ônibus. Quando do alargamento da Av. Juca Batista, da Escola de
Ensino Fundamental Borghesi, solicitamos um terreno para que fosse colocada ali
a ambulância porque sobraram 300 metros quadrados. Desde quando estava aqui o
Sr. Guilherme Barbosa, havia uma negativa dizendo que era área pública
incorporada ao leito da rua, e o engenheiro ... (ininteligível) para não botar
lixo e nós insistimos, nós fomos para cima.
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): Comunicamos que ainda temos dois inscritos. O
Próximo é o Sr. Felisberto Luisi, da ONG Despertar Coletivo. Em seguida, para
encerrar, Sra. Neiva Matos Moreno, da Comunidade Atílio Supertti.
O SR. FELISBERTO LUISI:
Bom-dia a todos e a todas. Ver. ª Neuza Canabarro, companheiro Valério, venho
aqui porque faço parte de uma ONG que se chama Resistência Participativa
Despertar Coletivo, e nós temos como premissa, defender aqueles que mais
precisam. E temos notado, na Cidade, uma política de exclusão daqueles que mais
precisam. A cidade está organizada para excluir os que têm menos renda. Não é o
Plano Diretor o culpado de todos os problemas; temos uma lei de loteamentos, de
1979, que está defasada e ninguém discute, nem no Congresso e nem em nível de
Estado e Município. Temos uma Lei Municipal – a Lei Orgânica de 1988 -, um trabalho
organizado pela Câmara de Vereadores que é referência nacional! Lá estão todos
os instrumentos que alguém veio falar aqui que estão no Estatuto da Cidade, mas
é referência a partir de Porto Alegre.
A função social da propriedade é uma batalha
lá do Estatuto da Terra, de 1964. Então, quero dizer que a Cidade tem que
respeitar as identidades culturais dos bairros e das comunidades; tem que
aprender a respeitar. Eu não quero viver como as outras pessoas querem morar,
se eu quiser morar em um apartamento, eu vou morar num apartamento. Se eu
quiser morar num terreno de 10 metros por 30 metros, eu vou morar num terreno
de 10 por 30. O que não pode é diminuir o tamanho dos terrenos, para ganhar
mais. (Palmas.) Para ganhar mais! Aí, quando uma cooperativa de baixa renda faz
lotes de 10 metros por 30 metros, dizem: “Não, vocês não podem fazer porque a
urbanização é muito cara!” Uma ova, pessoal! Uma ova! Eles querem ganhar tanto
na venda dos terrenos quanto na urbanização.
O que nós temos é que ter capacidade - e aí
eu desafio os técnicos - de dar a resposta técnica; e não se esconder atrás da
técnica para excluir as pessoas. Não é, Felipe? Sabe muito bem do que eu estou
falando, não? Há várias cidades do mundo que não existiriam “porque não dá,
tecnicamente”. Bento Gonçalves estaria fora do Planeta. E está lá Bento
Gonçalves. Por que está lá? Houve algum desabamento em Bento Gonçalves? Não. As
pessoas moram nas encostas. Na Itália, em muitas regiões do Sul da Itália, as
pessoas estão em morros muito mais altos que os nossos aqui; mas, lá, tem
técnica, lá tem uma série de coisas que têm que ser feitas. E, aí, eu desafio
aos técnicos a fazer. Então, eles dizem: “Não pode na beira dos arroios.” Por
que não pode na beira dos arroios? Agora, a Maiojama pode construir, aqui na
Zona Sul, perto da Serraria, um loteamento. O Poder Judiciário e o Ministério
Público podem construir no Centro Torres, aí tem que expulsar a comunidade do
Chocolatão, porque é comunidade pobre. Uma ova!
O que é isso pessoal? Aí, eles fazem discurso
que nós somos a favor... E o Ministério Público entra com ação civil pública
contra os loteadores, alguns irregulares, mas outros não, que pegam o pepino,
várias comunidades se organizaram para defender a posse da terra. Há pessoas
que não se vendem, que discutem a questão da extensão das áreas. Várias áreas
foram estendidas na cidade para desenvolver com planejamento. Por que a SMAM
não trabalha com arborização? Por que não diz que pode arborizar áreas em
encostas de morros? Poderiam responder: “Não, vocês não podem, porque vocês são
pobres, vamos botar vocês lá no fim do mundo.”
E o Chapéu do Sol não é uma área ruim de
morar, é uma área muito boa de morar. Então, eu quero discordar. Não é isso que
a Iole falou aqui: “Ah, vamos mandar lá para o Chapéu do Sol.” Não, as pessoas
têm que ficar onde moram, isso deve ser respeitado. E os técnicos têm que estar
a serviço da comunidade, principalmente técnico público, que é pago com recurso
público.
Querem fazer parque em área particular. Por
que não fazem em área pública? Não, porque, aí, tem que doar para o Poder
Judiciário, para o Ministério Público, para as outras entidades. Aqui, ninguém
falou no tal dos Portais da Cidade. O que são os Portais? E eu sou morador do
Centro. Os Portais são uma forma de exclusão da cidadania, de acesso ao Centro.
Eu sou morador do Centro e não me preocupo com as pessoas indo ao Centro. O que
nós temos que ter são ônibus para que as pessoas possam pegar nas proximidades
da sua casa. Há comunidades que não têm ônibus depois das 7 horas da noite,
aqui no Morro Alto. Na Dorival Castilho, lá no fim da rua, não tem ônibus. Aí,
eles falam: “Cidade com qualidade de vida”. Não, isso nós temos que ver! A
Ver.ª Neuza Canabarro falou o seguinte: “Tem que avaliar o Plano Diretor, ver
onde estão os entraves.” E aí, Eduíno, tu que és um batalhador pelo meio
ambiente, mas o meio ambiente não pode esquecer do ser humano, porque o Planeta
também é feito de pessoas e nós temos que encontrar harmonia. E eu digo sempre
que o Canadá é exemplo de meio ambiente; lá, os lagos são preservados, nenhum
país tem tantos lagos como o Canadá. Certo? Lá tem a preservação do meio
ambiente.
Nós, aqui, no Rio Grande do Sul, em Porto
Alegre, somos referência porque há a Agapam e uma série de entidades que já
alertavam lá no início dos anos 70.
Quero parabenizar os Vereadores que ficaram
até o fim, pois muitos se retiraram. Não adianta vir fazer discurso aqui e
depois ir embora. Tem que ficar até o fim, como a militância fica. Obrigado.
(Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Neuza
Canabarro): A Sra. Neiva Mattos Moreno, da Comunidade Atílio
Supertti, está com a palavra.
A SRA. NEIVA MATTOS
MORENO: Quero cumprimentar a todos, em especial a Mesa e os
Vereadores presentes até agora. Em primeiro lugar, eu gostaria e elogiar pela
possibilidade de estar aqui como cidadã, como professora aposentada, que
trabalhou 31 anos como um braço do Poder Público para atender as crianças e as
comunidades da periferia. Quero elogiar por este momento que o Parlamento
Municipal possibilita para as comunidades.
Gostaria de
fazer um breve relato sobre por que uma professora, com 31 anos de magistério,
é uma ocupante, hoje, graças à luta e à organização do povo, é uma mutuária de
uma casa que, como eu escutei aqui, não é digna, pelo seu tamanho; mas, para
quem não tem casa, é um palácio. Nós chegamos há 4 anos em Porto Alegre, como
todos esses que, hoje, incham as grandes cidades: em busca de dignidade e de
trabalho para a família inteira. Muito difícil. Eu vi um rapaz, não sei onde
ele está agora, dizendo que morou sempre aqui. Que bom que todo o cidadão
brasileiro pudesse crescer, se desenvolver e permanecer na sua terra. Mas,
hoje, com a política nefasta que existe, nós não podemos permanecer no nosso
torrão, e temos que vir lutar nos grandes centros.
A questão
da moradia, a questão fundiária, a questão do endereço e da dignidade de ter um
canto onde chegar para descansar, após um dia de trabalho - isso é uma das
coisas mais terríveis que nós enfrentamos hoje. E nós sentimos isso na carne.
E, hoje, eu estou aqui representando um pedaço dessa luta: as pessoas que não
conseguiram ser mutuárias.
Nós tivemos
os Vereadores deste Município ao nosso lado lutando, com exceção de um
Vereador, o Senhor Sebastião Melo. Que pena que ele foi embora. Porque no primeiro
dia de luta que nós tivemos e fomos recorrer à Câmara de Vereadores, numa
audiência pública, eles nos mandou - todos - para a lona preta; que o nosso
lugar era na lona preta.
Hoje, somos
mutuários, graças ao empenho e o esforço de muitos Vereadores; não posso dizer
que foi de um Partido, ou de um Vereador. Tivemos apoio, e, hoje, temos parte
do nosso povo morando com dignidade, com muita dignidade. Temos, Professora
Neuza, minha colega, temos no nosso condomínio, hoje, reciclagem do lixo, na
qual nós juntamos todo o dinheiro para desenvolver os processos internos da
comunidade. Temos biblioteca, já temos uma impressora, só nos falta um
computador para trabalhar com as crianças, desenvolvemos vários projetos lá
dentro.
O resto do
nosso povo está lutando para ter o seu cantinho. Porque, na negociação dessa
luta, nós conquistamos um terreno, e, nesse terreno, falta a parte de
infra-estrutura, que é competência do Poder Executivo Municipal. Estamos
lutando há anos e não conseguimos avançar nessa luta. Por que nós não
conseguimos avançar nessa luta? Porque dentro dessa luta pela moradia - e é
isso que eu quero dizer aqui para todos os lutadores, tanto da segurança,
quanto de todos os tipos de lutas, que eu vi aqui que são pessoas que dominam
com muita profundidade essa questão da reforma urbana, da reestruturação
fundiária; fazer com que as vilas passem a fazer parte do mapa, que as pessoas
passem a existir com seu endereço na mapa -, eu quero dizer o seguinte: se a
luta não avança...
Porque eu
acredito que a luta muda a lei, a luta faz com que as pessoas conquistem, a
luta dá dignidade para os cidadãos; e todas as Lideranças que estão aqui têm
que saber que têm que ajudar o povo, porque é através da luta do povo que se conquistam os
objetivos. E o povo tem disponibilidade de luta, o povo quer lutar, mas o povo
quer lideranças sérias, o povo não quer ser explorado por lideranças, por
grileiros, por gente que usa a pobreza, que usa a dificuldade, que usa todas as
questões que fazem com que o povo não consiga avançar, usam o povo para
interesses próprios.
Tem muito
grileiro nesta Cidade, tem muita gente que puxa para traz essa questão da
reforma. Eu conheço uma vila que o seu povo está lutando há sete anos; mas está
na mão de liderança que não deixa a luta avançar. E esse povo não avança, esse
povo está enterrado no barro.
Então,
Senhores Vereadores, é também em nome dos outros que eu quero pedir – e eu
tenho certeza de que existem projetos sérios dentro da Câmara de Vereadores,
que essa intenção é boa e é séria, porque dá oportunidade para o povo comum
falar; não dá só para os cargos da nobreza - que continuem lutando, que
continuem fazendo essas políticas sérias em que o povo será respeitado, em que
o povo terá dignidade, avance. Porque eu tenho certeza de que o povo vai
acompanhar, vai estar ao lado das lideranças que querem ajudar o povo. Porque o
povo não é burro, o povo tem memória: o senhor Sebastião Melo foi pedir voto,
na campanha passada, e o povo tinha lhe corrido de dentro do condomínio, o povo
tem memória; o povo sabe quais são os Vereadores que só vêm na época de eleição
pedir o voto. Muito obrigada e agradeço o espaço.
A SRA. PRESIDENTA (Neuza Canabarro): O Ver. Comassetto pede para que se faça um convite a
todos aqueles que tiverem interesse: hoje, às 15 horas, aqui, haverá oficinas
sobre Reforma Urbana.
Agradeço a
todos que ficaram até agora, em especial ao nosso Vice-Governador Miguel
Rossetto, que ficou aí, não teve oportunidade de falar; agradeço a cada uma das
senhoras, dos senhores que saíram de suas casas, com essa chuva, com esse tempo
ruim, e estão aqui lutando em prol da comunidade.
Tudo o que
foi aqui colocado e mais as transcrições de todas as Audiências Públicas serão
passadas para a Comissão Especial do Plano Diretor – constituída por 12
Vereadores -, que vai analisar, na Câmara; e, só após esse trabalho, vai
encaminhar para a discussão e o debate, e, então se dará a decisão de todo o
Plenário da Câmara.
Registramos
também a presença do Chico Vicente, que é um militante, um companheiro nosso,
que está presente.
Obrigada a
todos que compareceram e está encerrada a nossa Audiência Pública. (Palmas.)
(Encerra-se a Audiência Pública às 12h30min.)
* * * * *